Verba de gabinete banca contrato com doadora de campanha eleitoral
Entre 2011 e o fim do primeiro semestre 2013, quatro deputados estaduais usaram quase R$ 500 mil para alugar veículos de empresa que cedeu carros para as campanhas eleitorais deles
na Gazeta do Povo
Quatro deputados estaduais, incluindo três figuras-chave da atual legislatura, usaram parte da verba de gabinete a que têm direito para alugar carros de uma doadora de suas campanhas. O presidente da Assembleia, Valdir Rossoni (PSDB); o primeiro-secretário da Casa, Plauto Miró (DEM); o líder do governo, Ademar Traiano (PSDB); e André Bueno (PDT) usam verbas da Assembleia para alugar veículos da Cotrans, que cedeu carros para serem usados por eles durante as eleições.
Empresa doou R$ 357,8 mil para candidatos
Fornecedora de veículos para diversos órgãos públicos, a Cotrans foi uma das grandes doadoras da campanha política estadual de 2010. A empresa doou R$ 357,8 mil para candidatos individuais e mais R$ 111,7 mil para o comitê financeiro do PDT. Nas doações individuais, a maior parte da contribuição foi em serviços, e não em dinheiro: ou seja, a empresa cedia veículos gratuitamente para serem utilizados durante as campanhas.
A maioria das doações foi para a campanha de 25 candidatos a deputados estaduais, dos quais 12 se elegeram. Ao total, foram R$ 170,1 mil em cessão de veículos e mais uma doação de R$ 7 mil em cheque para a campanha do deputado Roberto Accioli (PV).
A empresa também cedeu carros para 19 campanhas de candidatos à Câmara Federal, seis deles eleitos. As campanhas de Roberto Requião (PMDB) e Ricardo Barros (PP) ao Senado e o candidato a vice-governador na chapa de Osmar Dias (PDT), Rodrigo Rocha Loures (PMDB), também receberam doações da empresa.
A Cotrans também fez uma doação em dinheiro de R$ 20 mil para a candidatura de Gustavo Fruet (PDT), então no PSDB, ao Senado. Em 2012, a empresa voltou a doar à campanha do atual prefeito de Curitiba, que recebeu R$ 80 mil. A empresa ainda cedeu carros à campanha do ex-prefeito Luciano Ducci (PSB) para a prefeitura.
A reportagem procurou a empresa para comentar o assunto, mas não foi respondida até o fim da noite de sexta-feira.
Banco de dados
Confira os gastos dos deputados com a verba de gabinete em: www.gazetadopovo.com.br/dados
Os parlamentares alegam que não há uma relação entre as doações e o serviço. O gasto total realizado por esses deputados com aluguel de veículos da Cotrans desde 2011 é de pouco mais de R$ 491 mil. Só no primeiro semestre de 2013, R$ 113,2 mil da verba de ressarcimento foram destinados a esse fim.
Traiano é o que mais gasta mensalmente com aluguel de veículos: R$ 6,6 mil, desde agosto de 2011. Apenas em 2013, foram R$ 39,6 mil. De acordo com o deputado, o dinheiro é destinado ao pagamento do aluguel de três carros, usados para “transporte de doentes e atendimento ao público”.
O tucano diz não ver qualquer problema moral em contratar a empresa que fez doações para sua campanha eleitoral. “A empresa simplesmente fez uma participação na campanha, não há o que ser questionado”, diz.
Rossoni gasta, mensalmente, R$ 6.380, desde fevereiro de 2011. Nos primeiros seis meses deste ano, foram desembolsados R$ 38,2 mil. Ele disse que paga valores normais de mercado pelo aluguel, e que “nem sabia” que a Cotrans era sua doadora de campanha. No site do TSE, consta uma doação estimada em R$ 24,8 mil da empresa à campanha eleitoral de Rossoni.
Primeiro-secretário da Casa, Miró paga R$ 4.120 por mês à empresa. Por meio de sua assessoria, o deputado comunicou que esse valor se refere a dois carros modelo Gol usados pelo gabinete. Segundo as informações repassadas, o contrato foi iniciado em dezembro de 2011. Até então, o gabinete alugava um carro de outra empresa. A mudança teria ocorrido por razões financeiras. A campanha de Miró recebeu R$ 2,7 mil da Cotrans em veículos emprestados.
Bueno, por sua vez, gasta R$ 2.950 mensais para o pagamento do aluguel de um veículo modelo Astra. O primeiro pagamento a Cotrans foi feito em maio de 2011. Para o deputado, não há problema moral na situação. “Se é uma empresa confiável e o valor é correto, não há problema”, afirma. Ele recebeu uma doação estimada em R$ 19,7 mil da empresa na campanha de 2010.
Questionável
Para o diretor da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco, não há ilegalidade na contratação da empresa pelos deputados. Entretanto, trata-se de algo moralmente questionável. “Sob o aspecto ético, isso não poderia acontecer. Fica a impressão de ser uma remuneração por um serviço de campanha”, afirma.
A Cotrans também cedeu veículos gratuitos para campanhas de outros oito deputados estaduais da atual legislatura, somando um total estimado de R$ 102,3 mil. Nenhum deles mantêm contratos de aluguel de veículos com a empresa.
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