Alcides Silva de Miranda (*) em sua página no FB (via Adelina Feijão)
O governo federal recua taticamente da proposição inicial de aumento do tempo do curso de Medicina. A proposta de requisito obrigatório de Residência Médica no âmbito do SUS me parece mais sensata.
Entretanto, a maior parte da corporação médica mais uma vez se posiciona em contrário.
Reforça o que eu tenho afirmado: toda e qualquer proposição de maior inserção de trabalho médico no SUS tende a ser desqualificada adjetivamente, em nome de discurso reivindicatório hipócrita, que serve muito mais como pretexto conservador e arrogante chantagem. Os arautos destes discursos são aqueles que cultivam e alimentam a falsa consciência de liberalismo profissional autônomo, enquanto são subservientes ao liberalismo das operadoras de planos de saúde e arremedos empresariais de cooperativismo. São os que disseminam mais preconceitos contra o SUS, enquanto convenientemente se servem dele para selecionar clientelas em "duplas portas" e transferir custos. Ajudam a cultivar e alimentar o complexo de superioridade entre estudantes de Medicina, a prepotência de biopoder e deficiência de escuta e interação comunicativa para com outros profissionais, para com as pessoas fragilizadas com as quais lidam quotidianamente em sua pretensão clínica.
A arrogância e prepotência corporativa, tanto tempo cultivada e alimentada, impede muitas destas lideranças médicas até de perceber sutilezas táticas, o "bode na sala" posto inicialmente pelo governo. Preferem o achaque e a intimidação, que, muitas vezes pode até funcionar... principalmente em se tratando de governos covardes e dependentes do mercado da pequena política.
O recuo governamental parece tático, para a mediação e viabilização de uma questão mais específica. Entretanto e infelizmente, trata-se de movimento tático desprovido e desconectado de estratégias mais , pelo menos em termos mais efetivos de política de Estado. O "bode na sala" é despretensioso e afoito por apelo popular instantâneo.
Precisamos de um "bode" mais vistoso e corajoso, aquele da Emenda Popular para a garantia de 10% das receitas brutas da União para o SUS (que agora vai ser apresentado ao Congresso, com 2 milhões de assinaturas...), acompanhado de outros (Carreira Única SUS para todos os trabalhadores de Saúde, Serviço Civil etc.). Se o atual governo não acompanhar o cortejo de aprovação do "bode do financiamento", não lutar por sua viabilidade política e efetividade institucional, deve, então, se recolher ao triste enredo do taticismo movido por covardia e orientado por oportunismo (nesse caso, estará sinfônico e afinado com a contrapartida da corporação médica).
(*) Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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