Alexandre Padilha: Passo a passo
na FSP
Com a aprovação no Congresso e a sanção da lei pela presidenta Dilma Rousseff, o programa Mais Médicos cumpre mais uma etapa.
Foram quatro meses de debates, nos quais a participação de estrangeiros, as novas regras para abertura de vagas e mudanças no currículo das faculdades de medicina enfrentaram resistência de entidades.
Mas, em nenhum momento, faltou a convicção do Ministério da Saúde de que o programa representa um passo para uma profunda mudança na saúde do país.
Essa convicção me acompanha desde os tempos da Faculdade de Medicina da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), quando criamos a Comissão Interinstitucional de Avaliação de Ensino Médico. O objetivo era romper a estrutura que fazia com que os estudantes utilizassem os pacientes do SUS como ferramentas de aprendizado para depois aplicar o conhecimento em consultórios privados. Nosso lema era: chega de aprender com os pobres para depois só tratar dos ricos.
A convicção cresceu quando assumi a coordenação de um núcleo de medicina tropical da USP no interior do Pará. Trabalhando com os índios zoé, percebi que, mesmo com a barreira da língua e com falta de infraestrutura, um médico faz diferença. Na época, a tribo corria o risco de ser dizimada pela pneumonia e malária. Com a ação do núcleo, ambas as doenças foram controladas dentro da tribo.
Uma década depois, já no Ministério da Saúde, iniciamos as ações para levar médicos para onde não os havia. Começamos com o Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica, em 2011, que levou 355 médicos para o interior do país. No ano seguinte, 8.000 médicos se inscreveram, mas muitos não iniciaram o trabalho. A demanda era de 10 mil médicos. Na ponta mesmo, chegaram cerca de 3.500.
A partir dessa demanda de prefeitos de todos os partidos, o programa Mais Médicos foi idealizado. Estudamos o que países como Canadá, Portugal e Austrália faziam para atrair profissionais para lugares remotos. Foi então que decidimos continuar priorizando os brasileiros, mas abrindo oportunidades a estrangeiros também.
O Mais Médicos está ainda no começo, mas os números dão a sua dimensão. Já são 3.676 profissionais que beneficiam, juntos, praticamente 13 milhões de brasileiros --mais do que toda a população da cidade de São Paulo. Em dezembro, chegaremos a 6.600.
No primeiro mês do programa, foram realizadas cerca de 320 mil consultas, o que fez com que aumentasse também o acesso a medicamentos do Farmácia Popular. No período, 13,8 mil pacientes retiraram medicamentos das farmácias populares com receitas emitidas por médicos do programa.
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Com um atendimento básico de qualidade, será possível resolver mais de 80% dos problemas de saúde, diminuindo as filas de hospitais.
A nossa aposta é no atendimento, mas também na infraestrutura. Do total de prefeituras atendidas na primeira etapa do programa, 97% recebem dinheiro federal para melhorar unidades. A presença do médico certamente acelerará esse processo.
Para além dos resultados, o Mais Médicos vem ajudando a vencer alguns tabus: que não faltavam médicos no país; que não existiam barreiras à atuação de estrangeiros; que não era necessária a universalização de vagas de residência médica e a presença de estudantes de medicina na atenção básica.
Hoje, o país já se deu conta de que a escassez de médicos é um dos nossos grandes problemas de saúde. Essa dificuldade está acima de divergências partidárias. Por isso, prefeitos, inclusive da oposição, inscreveram-se no programa.
A única ideologia que existe no Mais Médicos é levar médicos para onde faltam médicos. São bem-vindas as ações estaduais e municipais para levar mais profissionais para a população desassistida. Quanto mais médicos, melhor.
ALEXANDRE PADILHA, 42, médico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é ministro da Saúde
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