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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Entrevista com César Monte Serrat Titton, Diretor de Redes de Atenção à Saúde na Secretaria Municipal de Curitiba

Responsabilidade com a humanidade 

César Monte Serrat Titton, diretor de Redes de Atenção à Saúde na Secretaria Municipal de Curitiba.
Érica dos Santos
na EntreverbosRevista-laboratório do curso de Jornalismo da Facinter
Em 2013, o médico César Monte Serrat Titton recebeu um convite até então relevante para um especialista em Medicina da Família e Comunidade. Diretor de Redes de Atenção à Saúde na Secretaria Municipal de Curitiba, ele foi convidado pelo Secretário de Saúde, Adriano Massuda, para contribuir com o desenvolvimento nessa área. Presenciando as dificuldades enfrentadas no trabalho realizado entre 2006 a 2012 na Unidade de Saúde do bairro Umbará, em Curitiba, ele pôde criar oportunidades para melhorar a saúde pública.
Em maio deste ano ele assumiu um desafio no novo departamento dentro da Secretaria de Saúde, e conta com novas ferramentas para melhorar a atenção primária ao atendimento, fazendo com que o fluxo de idas e vindas de pessoas a hospitais, ambulatórios, exames e todas essas questões se tornem possíveis. Em entrevista a Entreverbos, Titton fala sobre as novidades e os problemas que os curitibanos vêm enfrentando no cotidiano da saúde pública.

Entreverbos: As dificuldades em conseguir médicos aqui em Curitiba estão aumentando?
Titton: É uma dificuldade muito significante há vários anos. Curitiba historicamente estava fazendo mais ou menos um concurso médico todos os anos e muitas vezes, tem mais número de médicos entrando do que o número de vagas e uma rotatividade grande.
Essa extrema rotatividade por número de postos de trabalho acontece desde 2005. Fazendo uma revisão histórica, este é o pior dos últimos 10 anos em números de horas médicas que estamos conseguindo oferecer para a população nas Unidades de Saúde. Nós só conseguimos paliar isso com o processo seletivo simplificado emergencial que saiu há pouco tempo. Foi então que conseguimos a entrada de 60 médicos.O problema com essa rotatividade é qualificar o profissional, devido ao processo de educação permanente que acaba tendo pouco tempo para realizar as qualificações devidas.
Aqui em Curitiba tem um diferencial que muitos municípios não têm. Curitiba tem uma carreira, médicos conseguem ter valores de progressão e mesmo assim temos dificuldades, e os outros municípios mais ainda.
A contratação de médicos cubanos foi vital para saúde pública?
Titton: No momento em que a gente está vivendo com tanta falta de profissional na área da saúde, foi muito importante. Eles chegaram recentemente com um gás total para trabalhar. Da parte deles a gente vê um interesse em fazer mudanças que me lembra de vários colegas que se formam comigo de excelente qualidade que estão trabalhando em várias Unidades de Saúde aqui em Curitiba, com ótimo vínculo entre a população. Mas o problema é que a gente ainda tem muitas Unidades que não conseguem ter esses médicos como referência. E é com essas assimetrias que estamos trabalhando.
E como retribuição, de que forma vocês estão respondendo as empolgações que os cubanos estão para trabalhar na Capital?
Titton: Já identificamos pessoas de Curitiba que estiveram em Cuba fazendo um trabalho, para oferecer uma rede maior de contatos. Sendo assim podemos propiciar a melhor estadia possível – não só nas questões obrigatórias conforme o programa “Mais Médicos”, que envolve o custeio de moradia, mas também na questão de interação para que eles não se sintam sozinhos.
O que há de realmente novo e significativo na saúde pública neste governo?
Titton: A ênfase na importância da atenção primária à saúde. Definimos como papel de maior resolutividade do acesso as pessoas de forma integral que não seja recortado por programas verticais agregados. O desenho anterior acabava enfatizando algumas patologias. A organização era razoável para atender quem tinha problemas de hipertensão, quem tem diabetes, mas quem tem artrose, por exemplo, escaparia, pois não tínhamos um programa para isso.
Então melhorando de forma integral, a atenção primária é um destaque grande que foi dado a parte de aproximar os ensinos e os serviços maior do que antes. Quando eu trabalhava na Unidade de Saúde no Umbará, recebia alunos da Faculdade Evangélica, porém, havia muitas dificuldades criadas para que os alunos fossem até lá. A forma com que era feita a gestão do sistema dificultava a aproximação do ensino com o serviço.
O que o senhor tem a dizer em relação às macas novas que estão paradas no HC?
Titton: O HC é um hospital que tem dificuldades históricas com questões envolvidas principalmente com a forma de gestão dos recursos humanos que faz com que ele não consiga desempenhar todo seu potencial, tanto para o SUS Curitiba quanto para o SUS Brasil.
Isso se agravou mais ainda com a dificuldade em encontrar mão de obra. Em uma instituição que é formada por tantos parceiros agregados – como universidades, fundações e o Ministério da Saúde – o apoio que a secretária oferece em algumas questões torna difícil fazer alguns ajustes.
A nova direção do HC, que assumiu na metade deste ano (2013) e teve que enfrentar todas essas questões, está flexível para essas negociações e ajustes. Esperamos ter uma resposta mais clara ao decorrer do próximo ano.
Será possível um dia a prevenção de enfermos aguardando por vagas?
Titton: Sim. Isso depende claramente de nós desenvolvermos maior capacidade de regulação do sistema. O método com que as Unidades acionam as formas de marcação e encaminham os usuários é muito assimétrica. Precisamos qualificar a atenção primária, porque tem pessoas que estão aguardando atendimento especializado, mas que pode resolver na primeira instância, mas com alguém capacitado para desenvolver determinada questão.
O que mais me angustia não é o número total de pessoas aguardando nas filas, mas, sim, pensar que no meio desse número existem pessoas com certo grau de priorização. É uma alegria quando a gente tem algumas filas que não apresentam problemas, como, por exemplo, a fila de cancerologia.

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