Luis Nassif na Coluna Econômica
Do alto de seus 78 anos, Luiz Suplicy Haffers é uma figura singular. Membro honorário da chamada elite quatrocentona paulista (apesar de ascendentes imigrantes do século 19), ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira, atravessou os principais períodos da história brasileira do século 20 de olhos abertos e mente atilada.
No dia do seu aniversário gravei uma entrevista especial para o Brasilianas.org da TV Brasil que foi uma aula prática de história nacional.
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Haffers sempre foi atento aos grandes períodos de ruptura - internacionais e nacionais. Os tempos passam, as elites mudam porque os vitoriosos da etapa anterior só sabem recorrer às estratégias vitoriosas do passado - assim como os generais franceses da linha Maginot. E transformam-se no grande obstáculo à chegada do novo.
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As transições políticas e econômicas são custosas porque os vencedores da etapa anterior envelhecem, não conseguem entender os novos tempos, mas encastelam-se na política e no poder para impedir o surgimento do novo, diz Haffers. Só aconteceu a industrialização paulista quando os cafeicultores foram derrotados pela crise de 29, diz ele. E, também, quando aparecem os Estadistas, os que conseguem enxergar o novo.
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É por isso que o menino que nos anos 30 andava com chapéu de revolucionário de 32, que abominava Getúlio Vargas e o trabalhismo, sem abrir mão do seu conservadorismo considera que Vargas foi um dos grandes nomes do século, ao olhar as massas desassistidas e abrir espaço para sua inclusão.
Do mesmo modo, o admirador de Carvalho Pinto, Lucas Garcez e de outros paulistas ilustres - e fiscalmente responsáveis - considera que Juscelino Kubistchek foi outro grande nome, ao abrir o país para a industrialização.
O que ambos tinham em comum? Não se baseavam nos conhecimentos tradicionais, na literatura dos países ricos, mas na análise da realidade, na intuição sobre o novo e no espírito prático. "Por aqui, nós só olhávamos a Europa e tentávamos repetir o modelo que já se esgotara", conta ele. "O novo acontece em Lucas do Rio Verde, em Luiz Eduardo, e o pessoal ainda pensava na Paulista".
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Crítico em muitos aspectos do PT, Haffers considera que o terceiro personagem a promover ruptura modernizante foi Lula, ao estender o olhar do Estado para os milhões de brasileiros desassistidos. Atribui mais uma vez à intuição, ao conhecimento da realidade do mais pobre.
"Nós, da elite, vivíamos dizendo que o mais pobre precisava trabalhar, arrumar emprego, o tratávamos como vagabundos. Lula lhes disse: vocês podem consumir. É mais ou menos igual à Igreja Católica acenando com o pecado, o inferno, e os Evangélicos com a felicidade em terra". A partir da descoberta do consumo, o pobre se integrou ao mercado de trabalho.
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Haffers vê no momento atual uma dessas rupturas modernizantes. Vê, também, um enorme vácuo de figuras referenciais. Mas é questão de tempo para que apareçam as novas lideranças, de uma juventude que o anima a apostar cada vez mais no futuro do país e a se regozijar de, com 78 anos, ainda ter a capacidade de perceber o novo.
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