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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O Fla-Flu do parto

no Blog Ser mãe é padecer na internet - Rita Lisauskas

parto
São torcidas opostas e que na maioria das vezes se odeiam. O comentário a seguir é de uma mãe adepta da cesariana em uma página do Facebook que fala sobre o assunto: “Parto humanizado é um retrocesso para a medicina!”. Logo depois vem a resposta de uma mãe que além de adepta ao parto normal, ainda acredita que a melhor solução para mamãe e bebê é ter seu filho em casa, com parteira: “Então vá parir com uma equipe não-humanizada. No mínimo você vai sair do hospital com um tremendo corte no seu períneo, minha filha!”

Tenho acompanhado a página do filme “O Renascimento do Parto” no Facebook. É um documentário que quer “transformar a realidade obstétrica brasileira”, segundo seus autores. Quem quiser assistir ao trailer, este é o link: http://www.youtube.com/watch?v=1zB-5ASFqm0. É emocionante e no mínimo nos faz pensar sobre o que o sistema de saúde brasileiro faz com as mulheres.
Eu sou do “time” do parto normal, vamos dizer assim. Mas não odeio e nem desprezo quem opta pela cesárea porque tive muitas dúvidas sobre qual parto escolher. Sentia medo de sofrer, medo de sentir dor.  Cheguei a ouvir de uma médica que fez vários dos meus ultrassons e que tem quatro filhos – todos nascidos de cesariana – que eu ia ter problemas de incontinência urinária e outras coisas assustadoras que não valem a pena serem publicadas. UMA MÉDICA, MÃE DE QUATRO FILHOS, disse isso para uma grávida! Outra dificuldade foi encontrar um médico que dissesse algo diferente do que a tal radiologista. Eles sempre olham para você e dizem que é “estreita demais” ou que o bebê pode nascer “grande demais”. As invencionices continuam mesmo quando a mulher insiste com o parto normal. Se você não tiver dilatação nas primeiras horas eles já decretam que tem que ir para a sala de cirurgia. Que médico quer ficar esperando 24hs, 30hs por uma dilatação? Ficava me perguntando como as crianças nasciam até descobrirem essa maravilha salvadora chamada cesariana. Como a natureza sempre tão sábia foi inventar algo tão perigoso?
As mães de baixa renda, como a babá do meu filho, têm horror ao parto normal porque os hospitais públicos deixam as grávidas sem nenhuma analgesia, sem a presença do marido na sala de parto e, se elas gritarem de dor, ainda recebem palavras de “apoio”: “Na hora de fazer não gritou, né”? Como escolher o parto normal com esse sistema de saúde, gente?
Mesmo assim eu busquei informação e consegui chegar em uma médica que respeitou o meu desejo. E o Samuca nasceu de parto normal, com 3.590 e 50 cm. Não tive incontinência urinária, recuperei-me maravilhosamente bem, e no dia seguinte ao nascimento já estava caminhando pelo quarto, super bem disposta e feliz.
Toda essa “grita” pelo parto normal é efeito de anos de desrespeito. Médicos irresponsáveis que usam seu conhecimento técnico para espalhar o horror e o medo. Toda a mulher tem o direito de escolher como vai ser seu parto. Mas o médico tem a obrigação de desmistificar e estimular o parto normal. Porque a cesárea é uma cirurgia feita de acordo com os interesses do médico e da mãe, nunca o interesse do bebê. Muitas crianças têm de ir para a UTI logo após a cesárea porque simplesmente não estavam prontas para nascer. 
Por isso hoje sou do “time” do parto normal. Não sou xiita, não julgo ninguém. Mas toda vez que uma grávida vem conversar comigo conto minha história e tento fazer o que os médicos não fazem: informar que o parto normal é a melhor escolha para a mãe e para o bebê.

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