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quinta-feira, 13 de março de 2014

A atenção especializada e a programação do Cineclube

Estou circulando pela IV Mostra de Experiências na Atenção Básica.

Dou uma olhada na programação da manhã e me interesso pela reunião sobre "Atenção Especializada Ambulatorial".

Daí você pode perguntar: Porque uma discussão sobre "Atenção Especializada" dentro de um evento de Atenção Primária? 

Explico: O acesso à atenção especializada (ou segunda linha) é hoje - provavelmente - um dos maiores nós do SUS.

Motivo de absoluto descontentamento por parte dos usuários. Filas de espera por especialidades com prazos absurdos para atendimento. 

Coisa de mais de ano.

Exemplo: No começo da atual gestão em Curitiba a gente encontrou cerca de 24.000 (vinte e quatro mil!!!) pessoas na fila da ortopedia. Pouco maior do que a fila de usuários esperando consulta em cardiologia dita "de média complexidade". Dá para sentir o drama?

Por outro lado a gente sabe que se - por hipótese - o cidadão tiver, no dia de hoje, um ataque cardíaco e precisar colocar um "stent" na coronária, amanhã ele amanhece na UTI já com o "stent" colocado.

Porém, se o mesmo cidadão precisar de um teste ergométrico ou de uma avaliação clínica pós angioplastia... Aí a coisa muda. Pode demorar mais de 6 meses.

É muito provável que o mesmo aconteça no caso de um usuário que necessite de uma prótese total de joelho e outro que sofra de lombalgia.

Não vou entrar aqui em análises e teorias conspiratórias. Estivesse aqui o George Bush - ex-presidente dos EEUU - ele teria a explicação. "É o dinheiro, seu estúpido!"

Os meus números podem estar defasados, mas gastos com a média e a alta complexidade respondem por aproximadamente 2/3 dos gastos da assistência à saúde nos 3 níveis de governo. 

É um dinheiro que vem - via de regra - "carimbado" e atende as necessidades de "oferta" muito mais do que as necessidades de "demanda". 

Ou seja: costuma estar imune às demandas e necessidades da sociedade, dos gestores (em especial de pequenos municípios) assim como "escapa" ao Controle Social.

Isto tudo  mesmo com os avanços do financiamento  e da expansão da Atenção Primária.

A Média/Alta Complexidade (MAC) é responsável por pesadelos e suores noturnos de 10 entre 10 gestores do SUS. 

É neste território (a MAC) onde acontecem os grandes acertos, os grandes conchavos nas chamadas "contratualizações", as pressões e o "lobby" selvagem do complexo médico-farmacêutico-industrial e... as grandes fraudes nos serviços contratados pelo SUS.

Natural que um debate sobre este tema seja aberto à sociedade, desperte o interesse dos profissionais da área e seja acompanhado minuciosamente pelo controle social.

Dito isto, juntei minha mochila e me dirigi à respectiva sala onde aconteceria a tal da reunião.

A mocinha na porta gentilmente me informou: "Desculpe senhor, esta não é uma reunião aberta, é uma reunião fechada..."

Dei a volta e fui procurar a sala do Cineclube.

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