Da coluna Caixa Zero, publicada nesta quarta-feira, na Gazeta do Povo.
Beto Richa autorizou na semana passada um aditivo do contrato com a
Helisul, e a empresa poderá continuar alugando aeronaves para o governo
do estado por mais um ano. Há um avião e um helicóptero no pacote. Os
dois ficam à disposição de Richa – o governo entra com a tripulação. A
locação do helicóptero sairá por até R$ 438 mil (o valor é um teto,
paga-se quando há uso). Valor modesto, quando comparado ao teto de mais
um ano de jatinho alugado: R$ 4,1 milhões. Para um estado que anda tendo
dificuldade para pôr combustível em viatura da polícia, nada
desprezível.
Ninguém nega que o governador precise se deslocar com rapidez. Sem
transporte específico, corre-se o risco de passar o vexame que Richa
passou no início de seu governo. O governador foi descoberto em aeronave
alheia, em voo escondido que só veio à tona porque o helicóptero teve
problemas em São Paulo. Se a comunicação do Palácio Iguaçu não relatasse
o susto do governador, não se saberia que Richa andava voando de favor
em aeronaves particulares.
Usar jatinhos alheios pode acabar em custo bem maior, como mostram
exemplos recentes. Demóstenes Torres e André Vargas que o digam. Na
comparação, o aluguel por meio de licitação é, pelo menos, lícito. No
entanto, e principalmente em um governo que prometeu fazer “mais com
menos” e “fechar as torneiras do desperdício”, é o caso de analisar se a
decisão foi a melhor possível do ponto de vista financeiro.
Para isso, o melhor caminho é voltar-se ao ano de 2011. Em seu início
de mandato, Richa decidiu rifar duas aeronaves do patrimônio público.
As duas foram dadas por inservíveis. Uma era um King Air – turbo-hélice
de 1968 que acabou passado nos cobres por R$ 449 mil. Havia sido
declarada como inservível por Eloy Biezus. “O risco à integridade do
governador é muito grande”, disse em entrevista a Sandro Moser publicada
nesta Gazeta. Não é surpresa que o próprio Biezus tenha comprado o
avião inservível para uso pessoal?
O outro avião vendido pela gestão Richa era Citation II. Pegou R$ 1,3
milhão em venda para a Lym Participações. Ao contrário do King Air, é
um jato. Também é mais novo: sua fabricação é de 1984.
Outra surpresa? As duas aeronaves que não prestavam para nada e que
por isso deveriam ser vendidas continuam em circulação. De acordo com o
Registro Aeronáutico Brasileiro, mantido pela Agência Nacional de
Aviação Civil, ambas estão em condições normais de uso e com
certificados para voar até 2019, pelo menos. Mesmo que Richa se reeleja,
poderia continuar voando com os dois até o fim do segundo mandato sem
nem precisar de novos certificados. Quem quiser pode consultar a
situação dos dois aviões no site da Anac, em www.anac.gov.br. Basta
digitar seus prefixos (PP-EIF para o King Air e PP-EUE para o Citation
da Cessna).
Na ponta do lápis, Eloy Biezus, o dono da Helisul, está recebendo no
caixa de sua empresa até R$ 12 mil por dia do governo do estado pelo
contrato. Em 37 dias, isso seria suficiente para quitar o avião que
comprou do governo do estado e que agora usa para fins particulares. O
governo, além do desembolso, ficou sem o patrimônio que tinha no hangar.
(*)Bebeto Bronzeado é o boneco de ventríloquo que ocupa (mas não exerce) o cargo de governador do Paraná
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