A aristocracia carioca tem sua guardiã:
a socialite Lourdes Catão
no Globo
RIO — O ano de 2014 está sendo atípico para o high society carioca.
Este é o primeiro ano par, desde a década de 1950, que o livro Sociedade
Brasileira — espécie de guia da aristocracia da cidade, com telefone e
endereço das famílias mais tradicionais do Rio — não será lançado.
Publicado bienalmente, o seleto caderninho vai atrasar e só sairá da
gráfica em 2015. Ano ímpar. Sua autora, a socialite Lourdes Catão, diz
que “está tudo muito difícil”:
— Com esse evento futebolístico, resolvi adiar a feitura do livro. Vou para os EUA. Depois vêm as eleições...
A Copa do Mundo foi riscada da agenda, mas não o calendário político. Aos 85 anos, Lourdes diz acompanhar o noticiário e fazer questão de votar. No entanto, classifica os candidatos à Presidência de “horríveis” (“Acho que o Aécio é o melhor, mais do nosso lado... Dilma não pode ser reeleita de jeito nenhum’’). E arregala os olhos com expressão de pânico quando o assunto descamba para os concorrentes ao governo do estado.
— Estamos virando a Venezuela. Se eu pudesse, voltaria amanhã para Nova York. Mas estou mais velha e daria muito trabalho empacotar tudo isso aqui de novo — diz, repousando o olhar na mobília da sala.
Lourdes morou mais de 20 anos em Nova York, onde trabalhou como decoradora. Desde que voltou, em 2004, mora em um apartamento térreo no edifício Biarritz, na Praia do Flamengo, com excesso de móveis, almofadas, quadros e cortinas. Nas mesinhas laterais, porta-retratos de família misturam-se a um samovar de prata e a ovos de marfim. Uma enorme pintura com uma estampa de tigre destoa da atmosfera clássica ornada por cadeiras Luís XV e louças da Companhia das Índias.
Na última quinta-feira, ela excedia em olhares afáveis e gestos delicados, num vestido de estampas geométricas, nas cores verde-limão, roxo e azul-turquesa (“Podia ser um (Emílio) Pucci, não é? Mas custou US$ 100, uma beleza”). Vaidosa, Lourdes coloca maquiagem todos os dias, mesmo quando não sai de casa (“Prefiro ver meu rosto assim no espelho”). Faz hidroginástica três vezes por semana e tem o hábito de sempre terminar as frases com um sorriso largo, até quando o assunto não é muito agradável.
Criada pelos avós paternos (ela é neta de Otto Prazeres, ex-secretário-geral da Câmara), Maria de Lourdes Prazeres Catão frequentou o Colégio Sion, assim como a maioria das moças da alta sociedade carioca. Aos 18 anos, casou-se com Álvaro Catão, empresário catarinense cuja família era dona de negócios de mineração, indústria química e portuária. Nos anos de 1950, o casal teve três filhos, Álvaro Luiz, Isabel (que mudou de sobrenome após se casar com Antonio Klabin) e Antonio, que faleceu em 2004 de um câncer de pele.
Ao lado do marido, frequentou as festas mais badaladas da alta sociedade brasileira dos anos 1950 e 1960. Mas a jovem fina e delicada demonstrou personalidade forte ao se divorciar para viver uma paixão pelo playboy francês François Gaubin-Daudé, em 1972.
— Álvaro foi meu grande amor. Mas só me dei conta disso depois... Ele me deixava sair, viajar sozinha — recorda, cortando o tom nostálgico com uma reflexão: — O que acabou sendo ruim. Foi numa dessas que conheci o François!
Após a morte de seu ex-marido, Álvaro, no fim da década de 90, e do irmão dele, Francisco, em 2001, Lourdes teve que encarar uma situação que desceu feito champanhe quente pela garganta do high society: ela confirmou que seu primogênito, Álvaro Luiz, era filho do cunhado Francisco, e não de Álvaro.
Lourdes evita o assunto assim como qualquer polêmica sobre o livro Sociedade Brasileira. Desde que assumiu a publicação em 2008, após o falecimento de sua irmã, Helena Gondim, ela se viu envolvida em mais um episódio desagradável: uma pessoa interessada em posar entre os sobrenomes da lista teria pago R$ 20 mil ao jornalista Jeff Thomas, que integrava o catálogo e teria lhe prometido a inclusão.
— Levei um susto quando soube! Ele não poderia colocar ninguém no livro, ainda mais cobrando — relembra.
Thomas, que foi retirado da publicação, classifica a história de mentirosa:
— Isso nunca aconteceu, imagina! Ninguém pagaria para entrar ali. Hoje, nem a Vera Loyola faz mais questão de estar no livro — alfineta ele, que é autor do livro “A fogueira dos emergentes", e se prepara para lançar “Colunismo social: ascensão e queda’’.
Que a sociedade mudou, Lourdes concorda. Por conta disso, desde que ficou responsável por quem entra no livro e sai dele, já incluiu nomes como os das atrizes Christiane Torloni e Maitê Proença, e diz querer acrescentar os de Fernanda Montenegro, Ana Botafogo e do jogador Kaká. O casal Guilhermina Guinle e Leonardo Antonelli, barrados ao tentar ingressar no quadro de sócios do Country Club no ano passado, está na lista de agraciados (“Foi um absurdo o que fizeram com eles”).
— Lourdes Catão é a personalidade certa para dar continuidade à missão de sua irmã, pois mantém vivo, em si mesma, o carisma da verdadeira alta sociedade. Sabe se reinventar — opina a colunista social Hildegard Angel, presente no livro.
Ao todo, são cerca de 2 mil nomes. Segundo Lourdes, todos que já estão permanecem, salvo os que morrem.
— A sociedade mudou de hábitos. Empobreceu mesmo... Não dão mais festas como antigamente. E as celebridades são mais conhecidas das pessoas — avalia ela, explicando seus critérios de seleção: — Não importa mais tanto o sobrenome e sim se a pessoa circula, se é vista e tem um comportamento elogiado pelos outros integrantes do livro.
— Com esse evento futebolístico, resolvi adiar a feitura do livro. Vou para os EUA. Depois vêm as eleições...
A Copa do Mundo foi riscada da agenda, mas não o calendário político. Aos 85 anos, Lourdes diz acompanhar o noticiário e fazer questão de votar. No entanto, classifica os candidatos à Presidência de “horríveis” (“Acho que o Aécio é o melhor, mais do nosso lado... Dilma não pode ser reeleita de jeito nenhum’’). E arregala os olhos com expressão de pânico quando o assunto descamba para os concorrentes ao governo do estado.
— Estamos virando a Venezuela. Se eu pudesse, voltaria amanhã para Nova York. Mas estou mais velha e daria muito trabalho empacotar tudo isso aqui de novo — diz, repousando o olhar na mobília da sala.
Lourdes morou mais de 20 anos em Nova York, onde trabalhou como decoradora. Desde que voltou, em 2004, mora em um apartamento térreo no edifício Biarritz, na Praia do Flamengo, com excesso de móveis, almofadas, quadros e cortinas. Nas mesinhas laterais, porta-retratos de família misturam-se a um samovar de prata e a ovos de marfim. Uma enorme pintura com uma estampa de tigre destoa da atmosfera clássica ornada por cadeiras Luís XV e louças da Companhia das Índias.
Na última quinta-feira, ela excedia em olhares afáveis e gestos delicados, num vestido de estampas geométricas, nas cores verde-limão, roxo e azul-turquesa (“Podia ser um (Emílio) Pucci, não é? Mas custou US$ 100, uma beleza”). Vaidosa, Lourdes coloca maquiagem todos os dias, mesmo quando não sai de casa (“Prefiro ver meu rosto assim no espelho”). Faz hidroginástica três vezes por semana e tem o hábito de sempre terminar as frases com um sorriso largo, até quando o assunto não é muito agradável.
Criada pelos avós paternos (ela é neta de Otto Prazeres, ex-secretário-geral da Câmara), Maria de Lourdes Prazeres Catão frequentou o Colégio Sion, assim como a maioria das moças da alta sociedade carioca. Aos 18 anos, casou-se com Álvaro Catão, empresário catarinense cuja família era dona de negócios de mineração, indústria química e portuária. Nos anos de 1950, o casal teve três filhos, Álvaro Luiz, Isabel (que mudou de sobrenome após se casar com Antonio Klabin) e Antonio, que faleceu em 2004 de um câncer de pele.
Ao lado do marido, frequentou as festas mais badaladas da alta sociedade brasileira dos anos 1950 e 1960. Mas a jovem fina e delicada demonstrou personalidade forte ao se divorciar para viver uma paixão pelo playboy francês François Gaubin-Daudé, em 1972.
— Álvaro foi meu grande amor. Mas só me dei conta disso depois... Ele me deixava sair, viajar sozinha — recorda, cortando o tom nostálgico com uma reflexão: — O que acabou sendo ruim. Foi numa dessas que conheci o François!
Paixão por francês e Paris
Com o francês, mudou-se para Paris, onde morou por cinco anos e, em seguida, para Nova York. Uma vez lá, porém, a chama se apagou (“ele bebia muito"), e ela decidiu viver em Manhattan por conta própria, decorando apartamentos da elite novaiorquina. Com o agravamento da doença do filho mais novo, Lourdes vendeu o apartamento da 5ª Avenida e voltou para o Rio.Após a morte de seu ex-marido, Álvaro, no fim da década de 90, e do irmão dele, Francisco, em 2001, Lourdes teve que encarar uma situação que desceu feito champanhe quente pela garganta do high society: ela confirmou que seu primogênito, Álvaro Luiz, era filho do cunhado Francisco, e não de Álvaro.
Lourdes evita o assunto assim como qualquer polêmica sobre o livro Sociedade Brasileira. Desde que assumiu a publicação em 2008, após o falecimento de sua irmã, Helena Gondim, ela se viu envolvida em mais um episódio desagradável: uma pessoa interessada em posar entre os sobrenomes da lista teria pago R$ 20 mil ao jornalista Jeff Thomas, que integrava o catálogo e teria lhe prometido a inclusão.
— Levei um susto quando soube! Ele não poderia colocar ninguém no livro, ainda mais cobrando — relembra.
Thomas, que foi retirado da publicação, classifica a história de mentirosa:
— Isso nunca aconteceu, imagina! Ninguém pagaria para entrar ali. Hoje, nem a Vera Loyola faz mais questão de estar no livro — alfineta ele, que é autor do livro “A fogueira dos emergentes", e se prepara para lançar “Colunismo social: ascensão e queda’’.
Que a sociedade mudou, Lourdes concorda. Por conta disso, desde que ficou responsável por quem entra no livro e sai dele, já incluiu nomes como os das atrizes Christiane Torloni e Maitê Proença, e diz querer acrescentar os de Fernanda Montenegro, Ana Botafogo e do jogador Kaká. O casal Guilhermina Guinle e Leonardo Antonelli, barrados ao tentar ingressar no quadro de sócios do Country Club no ano passado, está na lista de agraciados (“Foi um absurdo o que fizeram com eles”).
— Lourdes Catão é a personalidade certa para dar continuidade à missão de sua irmã, pois mantém vivo, em si mesma, o carisma da verdadeira alta sociedade. Sabe se reinventar — opina a colunista social Hildegard Angel, presente no livro.
Ao todo, são cerca de 2 mil nomes. Segundo Lourdes, todos que já estão permanecem, salvo os que morrem.
— A sociedade mudou de hábitos. Empobreceu mesmo... Não dão mais festas como antigamente. E as celebridades são mais conhecidas das pessoas — avalia ela, explicando seus critérios de seleção: — Não importa mais tanto o sobrenome e sim se a pessoa circula, se é vista e tem um comportamento elogiado pelos outros integrantes do livro.
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