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segunda-feira, 28 de julho de 2014

Plataforma internacional reúne produção científica em prevenção da violência

Para Maria Fernanda Tourinho Peres, pesquisadora integrante do Núcleo de Estudos da Violência (NEV/USP), país tem muito a aprender e a colaborar na área.

Análise, prevenção e avaliação. Entendida como doença social, a violência exige da sociedade novas formas de abordagem para a reversão dos registros crescentes no quadro epidemiológico mundial e para a superação de suas consequências. A Organização Mundial da Saúde (OMS), que elencou a temática como um dos pontos centrais para a atuação, criou junto com centros colaboradores internacionais a plataforma Violence Prevention, uma base de dados de acesso público voltada para a sistematização de informações na área de prevenção da violência.

Por meio de um sistema de busca on line é possível, por exemplo, identificar estudos avaliativos por tipo de violência, palavras-chave ou por país. Os estudos contam com dados importantes, como o desenho de pesquisa, número de participantes e indicadores de resultado utilizados na avaliação, uma ferramenta de grande utilidade para pesquisadores e desenvolvedores de políticas públicas para a área. A base encontra-se disponível para inclusão de novos estudos, que devem ser publicados em inglês.
Para Maria Fernanda Tourinho Peres, professora doutora do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e coordenadora do Centro Colaborador da OMS para pesquisa em violência e prevenção da violência, sediado no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), apesar de o país contar com importantes grupos de pesquisa sobre a temática, ainda são escassos estudos com avaliações sobre programas de prevenção. “Além de oferecer uma maior visibilidade às produções nacionais, a plataforma pode contribuir para reforçar este campo de conhecimento no mundo e servir de estímulo para novas ações na área da prevenção da violência”. Acessehttp://www.preventviolence.info/ e confira a entrevista.
Abrasco: Como está a participação de pesquisas brasileiras na plataforma Violence Prevention?
Maria Fernanda Peres: Ainda é tímida, o que pode ser explicada de diversas formas: inicialmente pelo desconhecimento sobre a existência dessa ferramenta. Estamos iniciando um trabalho de divulgação ampla na comunidade acadêmica de diversas áreas e também junto com os profissionais ligados a serviços e programas que atuam na prevenção da violência, a qual engloba o setor saúde, mas não se limita somente a este setor. A segunda explicação é a barreira da língua.O site é em inglês, o que limita, de alguma forma, o uso por países de língua não inglesa, como é o nosso caso. A terceira explicação é a escassez de estudos de avaliação realizados de forma sistemática sobre programas de prevenção à violência no Brasil.

Abrasco: Quais são os objetivos a serem alcançados com a plataforma?
Maria Fernanda Peres: Uma das consequências da grande complexidade que são os estudos sobre violência está na dificuldade em delinear ações, projetos e programas que sejam eficazes na prevenção. As iniciativas em curso são inúmeras, mas as avaliações são escassas e dispersas. A plataforma tem como uma de suas propostas sistematizar os estudos de avaliação que foram realizados seguindo um protocolo rigoroso de pesquisa e que tenham demonstrado resultados promissores por parte dos programas ou ações avaliadas, o que pode e deve causar um efeito multiplicativo, aumentando a realização de estudos de avaliação e servindo de modelo para implementação de programas similares. Aqui é sempre importante lembrar que aspectos contextuais devem ser considerados nessa replicação.

Abrasco: Como a senhora avalia os estudos científicos sobre prevenção da violência no Brasil?
Maria Fernanda Peres: Quando falamos em violência a situação do Brasil é bastante singular. Temos áreas com altos níveis de violência, expressos nas altas taxas de mortalidade, sobretudo de jovens, temos a presença do crime organizado, da violência policial, além de graves violações dos Direitos Humanos. Por isso sinto que a comunidade internacional olha para nós, pesquisadores brasileiros, com muito interesse. Penso que podemos contribuir muito para este campo, uma vez que temos aqui no Brasil grupos de pesquisa sobre violência que são de altíssimo nível e já tem uma longa história de produção. No entanto, temos ainda poucos estudos de avaliação de programas de prevenção. Não tenho conhecimento, por exemplo, de ensaios clínicos realizados entre nós, mas sim de estudos de avaliação de efetividade, que já produzem informações bastante interessantes para conhecermos melhor os nossos programas e os seus resultados.

Abrasco: Quais lições os serviços de saúde podem aprender com estudos sobre os programas estrangeiros?
Maria Fernanda Peres: Muitas. Há de fato um grande investimento da comunidade internacional neste campo, são muitas as iniciativas em curso que têm como objetivo prevenir a violência. Podemos, com estes estudos internacionais, trazer para o Brasil experiências que se mostram exitosas em contextos semelhantes ao nosso. Isso é fundamental. Não há necessidade de começar do zero. Podemos aprender com outras experiências, adaptar para nossa realidade e avaliar os nossos resultados. Assim se acumula conhecimento, assim o conhecimento flui.

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