No Combate ao Racismo Ambiental
É o segundo processo de mesmo valor que procuradores abrem contra empresa
Cássia Almeida – O Globo
RIO –
O Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro entrou com ação
civil pública contra a Eternit, que tem fábrica em Guadalupe, Zona Norte
do Rio, desde 1984, cobrando R$ 1 bilhão de indenização por manter seus
trabalhadores em risco por exposição ao amianto, fibra considerada
cancerígena pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A exposição ao
amianto pode causar asbestose, doença que vai aos poucos diminuindo a
capacidade respiratória e causa câncer de pulmão e mesotelioma, um tipo
de câncer.
Segundo
uma das procuradoras que assinam a ação, Janine Milbratz Fiorot, a
fábrica vem desobedecendo normas de segurança para poder usar amianto.
Máquinas mal conservadas deixam vazar poeira da fibra, expondo os 190
trabalhadores da unidade.
—
Há falhas na gestão de saúde e segurança. O pedido de R$ 1 bilhão trata
também do passivo trabalhista da empresa, que tem convocado muito pouco
os ex-trabalhadores para exame médico. Sabemos que as doenças
provocadas por amianto tem tempo de latência de 20, 30 anos.
EMPRESA DIZ QUE NÃO FOI COMUNICADA
A
Eternit, procurada, informou por nota que, “até o momento, não foi
oficialmente comunicada sobre a mencionada ação e, portanto, não tem
conhecimento do inteiro teor da mesma”.
O
pedido de R$ 1 bilhão de indenização repete o valor de ação civil
pública proposta pelo Ministério Público do Trabalho de São Paulo, em
agosto do ano passado, em defesa dos ex-trabalhadores da fábrica de
Osasco, fechada em 1993. Na época, a liminar foi parcialmente concedida,
com a Eternit ficando obrigada a custear plano de saúde para os
ex-operários da fábrica.
Segundo
a procuradora, o caso no Rio é ainda mais grave porque a fábrica ainda
está em funcionamento. O inquérito contra a Eternit foi aberto em 2008,
com base em inspeções feitas na unidade de Guadalupe.
Na
ação que tramita na 49ª Vara do Trabalho, há uma lista de 37 itens, que
vão desde a interdição de vestiários até a reparação de máquinas que
trituram restos de telhas fora do padrão para reaproveitamento. O
exaustor do equipamento está quebrado, cheio de teias de aranha,
conforme a ação.
O
Ministério Público também pede que a empresa convoque ex-trabalhadores
para exame, com anúncios em televisão e jornais, além de emitir
Comunicação de Acidente de Trabalho. Na ação, são citados casos de
trabalhadores que adoeceram nos anos 1980, mas somente em 2014 foi
emitido o documento obrigatório em caso de acidentes ou doenças
ocupacionais.
3 MIL MORRERAM NO BRASIL
Não
será a única ação civil pública que a Eternit vai sofrer no Rio. O
advogado Leonardo Amarante, da Associação Brasileira dos Expostos ao
Amianto do Rio de Janeiro (Abrea-RJ), vai também entrar com ação para
que sejam estabelecidos critérios para a indenização dos
ex-trabalhadores:
—
Demoramos mais a entrar com a ação para recompor a diretoria da
associação. Desde 2002, quando nasceu a associação no Rio, já morreram
cerca de dez diretores. Queremos discutir a questão de forma mais ampla,
para que todos os trabalhadores que adoeceram e os parentes dos que
morreram possam ser razoavelmente indenizados.
Lei
de 1995 disciplinou o uso do amianto no Brasil, estabelecendo regras
que foram atualizadas com normas regulamentadoras, acordadas entre
Ministério do Trabalho, sindicatos e empresas. Uma ação direta de
inconstitucionalidade tramita desde 2004 no Supremo Tribunal Federal
contra a lei de 1995. Desde 1980, mais de três mil trabalhadores
morreram de mesotelioma no Brasil, câncer, em sua maior parte, provocado
por exposição ao amianto.
-
Enviada para Combate Racismo Ambiental por Fernanda Giannasi.
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