Uma entrevista bomba de Eduardo Giannetti
Luis Nassif na Coluna Econômica -
A entrevista de Eduardo Gianetti - o economista de Marina Silva - ao jornal Valor Econômico é literalmente uma bomba.
Gianetti defende a correção rápida dos preços administrados. De fato, é importante para organizar as expectativas inflacionárias, tirando do horizonte uma variável indefinida. Mas transformará a expectativa em inflação, principalmente se os ajustes foram feitos de uma vez.
Considera bem sucedidas experiências semelhantes feitas no início do governo FHC e Lula.
O entrevistador lembra Gianetti que naqueles momentos o grande peso da inflação era o câmbio e não havia o quadro de emprego e renda que se tem hoje.
Admite que "situação em certos aspectos era diferente da atual, de fato".Mas não consegue elaborar propostas para situações distintas. Limita-se a crer "sem a menor dúvida", como ele diz, "de que há um custo de fazer o ajuste hoje, mas ele certamente é menor do que o custo de não fazê-lo".
***
Esquece que um choque inflacionário afeta diretamente as expectativas e a confiança dos agentes econômicos. Se derrubar o mercado de consumo, quebra a única perna que sustenta o PIB hoje em dia. E se, junto com a inflação, sobrevier uma recessão - fruto do choque fiscal e tarifário - só um milagre para empresários sem mercado e sem estabilidade de preços manterem a confiança na economia.
***
O governo dá o choque tarifário, aumenta a inflação, sobe os juros e completa com um choque fiscal, para dar coerência ao pacote. E onde vai cortar? Nos subsídios à agricultura e à indústria.
Gianetti é adepto da tese de que a indústria chora por vício, não por necessidade. "Acho que a indústria deve se preparar para uma operação desmame. Ela está acostumada a chorar e ser atendida".
Com a eleição da Marina, a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) do BNDES vai subir para não haver subsídio. Considera-se subsídio a diferença entre a TJLP e a taxa de juros implícita na dívida pública. A taxa distorcida é a Selic; mas Gianetti trata a TJLP como se fosse a abusiva.
***
E como ficará o emprego? O mágico Gianetti, o economista que não tem dúvidas, responde que "o desemprego já é uma realidade e a ideia é que termine o quanto antes". Como? Fé cega e tesoura amolada. "A experiência mostra que a capacidade de resposta da sociedade brasileira é muito forte. Tendo a crer que ainda em 2015 será possível ver a volta da economia ao crescimento, se for muito bem feito".
Não se trata de nenhuma afirmação científica, calçada em dados, analisando todos os desdobramentos da política econômica. Trata-se de matéria de fé: "Tendo a crer (...) se for tudo muito bem feito..."
***
Perde a agricultura, perde a indústria e não ganham os programas sociais.Eles serão mantidos apenas na hipótese de haver folga fiscal.
***
Indagado sobre qual a diferença de Marina sobre os demais candidatos, Gianetti é taxativo: "Não vemos a economia como um fim em si mesmo, ela é pré-condição para uma vida melhor para todos, de uma realização mais plena. O sonho que nos move é que a economia deixe de ocupar o lugar de proeminência que ela ocupa hoje no debate brasileiro para que a gente possa focar em questões ligadas à cidadania, à realização humana, à felicidade".
Nenhum comentário:
Postar um comentário