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terça-feira, 30 de setembro de 2014

Complexo médico-industrial pagou bilhões para médicos e hospitais norte-americanos em 2013

via Reuters (tradução do blog do Mario)

Médicos e hospitais de ensino nos EEUU receberam US $ 3,5 bilhões vindos de empresas farmacêuticas e fabricantes de equipamentos médicos nos últimos cinco meses de 2013, de acordo com o mais extenso estudo já publicado sobre tais pagamentos.

Os pagamentos, divulgados pelos Centros de Serviços Medicare e Medicaid (CMS) na terça-feira, incluem consultoria e honorários por palestras, viagens, refeições, entretenimento e bolsas de pesquisa. Os nomes dos destinatários de cerca de 40 por cento dos pagamentos declarados pelas empresas não foram divulgados porque o CMS tinha preocupações sobre inconsistências de dados.

Aproximadamente  546.000 prestadores individuais, incluindo médicos, dentistas e fisioterapeutas  além de 1.360 hospitais de ensino receberam U$ 4,4 milhões de pagamentos “por fora” de empresas de saúde.


As empresas foram obrigadas pela  lei da reforma da saúde do presidente Barack Obama a divulgar para a CMS todos os pagamentos acima de US $ 10 feita de agosto a dezembro de 2013. Até mesmo os pagamentos que os médicos solicitaram que fossem enviados  para uma instituição de caridade tinham que ser relatados.

A Associação Médica Americana (AMA) e outras associações de médicos solicitaram a CMS para atrasar a divulgação dos dados em seis meses, dizendo que as inconsistências nos dados poderiam criar uma falsa impressão sobre a influência da indústria sobre os médicos .

A extensão dos pagamentos da indústria, que chegou a US$ 23 milhões por dia, tinha relação direta com anos de pesquisa. Um estudo de 2007 descobriu que 83 por cento dos médicos receberam presentes de empresas farmacêuticas ou de equipamentos, e 28 por cento receberam pagamentos por consultorias ou pesquisas.



Apoio “bipartidário”


Congressistas democratas e republicanos apoiaram a medida prevista no Obamacare de tornar públicos estes pagamentos (Physician Payments Sunshine provision of Obamacare), pois isto aumentaria a transparência.

Quando os pacientes estão conscientes de potenciais conflitos de interesses financeiros, eles podem questionar por que seus médicos estão prescrevendo uma droga ou dispositivo de um fabricante que lhes paga, por exemplo. Da mesma forma, os médicos saberão se especialistas que recomendam orientações práticas foram pagos por empresas que poderiam se beneficiar destas recomendações.

Dos médicos que relataram ter recebido dinheiro da indústria, mesmo antes do Physician Payments Sunshine provision, 40 por cento tinham tido participação na criação de diretrizes de prática clínica, de acordo com um relatório de 2009 do Instituto de Medicina, um braço da Academia Nacional de Ciências.

As seguradoras de saúde têm levantado preocupações de que os pagamentos da indústria levam  ao uso excessivo de drogas e equipamentos caros.

"Estes pagamentos, embora não sejam nefastos em todos os casos, são um indicador importante que demonstra o desalinhamento dos incentivos em nosso sistema de saúde", disse Brendan Buck, porta-voz dos Planos de Saúde dos Estados Unidos. "Enquanto a maioria das partes interessadas de saúde estão trabalhando juntos para encontrar maneiras de reduzir os custos, as farmacêuticas mantém o foco em estratégias para mantê-los inflados".

Alguns grupos de especialidades médicas expressaram preocupação de que a liberação dos dados levará a humilhação pública de médicos que aceitem, por exemplo, viagens com todas as despesas pagas, para locais exóticos.

Mas os pesquisadores que estudaram os pagamentos da indústria para os médicos dizem que não está claro se os pacientes se preocupam com este tipo de atitude, muito menos se os pagamentos afetariam a escolha do médico pelo paciente.

"As pessoas podem não gostar que seus médicos façam essas viagens gratuitas, mas algumas pessoas podem imaginar que, se o seu médico está aceitando honorários de consultoria de muitas empresas, ele deve ser muito bom", disse Genevieve Pham-Kanter, professora-assistente de política de saúde na Universidade de Drexel.

Sociedades de especialidades médicas e outros que emitem orientações (“guidelines”)  há muito dizem ser necessário a divulgação desses pagamentos, mas não está claro quantas destas entidades, se houver alguma, tomam a iniciativa de verificar elas próprias estas informações.

"A ubiquidade é absolutamente onipresente nesta relação”, disse o cirurgião ortopédico F. Todd Wetzel, um membro do Sociedade de Coluna dos EEUU. "O envolvimento com a indústria pode ser uma vantagem, ele só tem que ser feito corretamente."

O CMS, parte do Departamento de Saúde, disponibilizou os dados no site www.cms.gov/openpayments. Ainda não está disponível para os usuários a pesquisa no site pelo nome do médico.

(Reportagem de Sharon Begley e MB Pell, Edição de Michele Gershberg, Cynthia Osterman)

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