no jornal GGN
Jornal GGN - Reportagem do portal Último Segundo
expõe casos em que pacientes denunciaram que médicos fazem campanha,
geralmente pró Aécio Neves (PSDB), dentro do consultório, logo após o
atendimento. No caso, uma senhora de 89 anos reclamou que seu
diagnósticou levou apenas três minutos, e o profissional que a atendeu
subiu em um palanque particular durante outros 10.
De acordo com um dirigente da AMB (Associação Médica Brasileira) diz
que se o médico for dono do consultório, não descumpre nenhuma lei se
quiser até "vestir uma camiseta de Aécio". A reportagem destaca o atrito
entre o governo Dilma Rousseff e a classe médica após a importação de
cubanos para endossas o Mais Médicos.
Médico gasta três minutos em diagnóstico e dez para convencer paciente a votar
Do Último Segundo
Oftalmologista questionou voto de idosa de 89 anos. Episódio é exemplo do engajamento inédito dos médicos nas eleições
Arlette Fleury Teixeira, de 89 anos, entrou no consultório do seu
oftalmologista, em Belo Horizonte (MG), para uma corriqueira consulta.
Mas após três minutos de diagnóstico, a aposentada viu a sala em que
estava se tornar um palanque político. Irritada e insatisfeita com a
velocidade do atendimento, ela se encaminhava para deixar o consultório
quando ouviu: “A senhora vai votar em quem, dona Arlette? Dilma ou
Aécio?”. A pergunta deu início a um período de 10 minutos de
argumentação. “Até avisei que já não voto há anos só para ele parar”,
relata Arlette.
Com dificuldade na fala, a idosa, que já não é obrigada pela Justiça
Eleitoral a ir às urnas por ter mais de 70 anos, define o encontro como
“muito esquisito” e esclarece que nunca discutiu política com o médico
em outras consultas. “Ele passava as letras tão depressa. Eu não tinha
tempo para ler o que estava na minha frente”, reclama. O depoimento de
Arlette, no entanto, é o exemplo claro do inédito engajamento da classe
médica nas eleições presidenciais, em grande parte a favor do candidato
do PSDB, Aécio Neves.
As manifestações dos profissionais da saúde nas eleições eclodiram
nas redes sociais. No Facebook, por exemplo, a velha polarização PT
versus PSDB ganhou forma com a criação das páginas Médicos com Aécio e
Médicos com Dilma, com 33 mil e 13 mil curtidas, respectivamente. A
primeira chega a ser usada como vitrine com fotos de médicos e
estudantes de medicina, que decoram os tradicionais jalecos brancos e
roupas cirúrgicas com adesivos pró-tucano no ambiente de trabalho.
Trazer o assunto eleitoral aos corredores das clínicas e hospitais
(públicos ou privados) pode gerar desconforto nos pacientes, que não
necessariamente compartilham a posição política do médico, muito menos
procuram um pronto-socorro com a intenção de debater as eleições
presidenciais. A prática é defendida, no entanto, pela cardiologista C.,
fundadora a página Médicos com Aécio, que pediu para não ter o nome
revelado por medo de perseguição eleitoral. Segundo ela, médicos são
eleitores comuns e querem se manifestar.
“O pessoal está usando adesivos, bótons e faixas nas grandes cidades,
onde o médico é um na multidão. O médica, o técnico de enfermagem, o
fisioterapeuta é um cidadão, um eleitor normal. Ele vai usar [adesivos]
aonde? Se for assim uma pessoa que trabalha na biblioteca não poderia
usar. O hospital é imaculado?", questiona C., que atua na rede do
Sistema Único de Saúde (SUS) do Mato Grosso do Sul.
Questionada sobre o uso de material de campanha em salas de exames e
cirúrgicas, como exibiram alguns profissionais nas redes sociais, C.
aposta que os adesivos “provavelmente são retirados após as fotos”. Já o
presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Florentino Cardoso,
classifica os registros como falsos. “Imagino que sejam montagens”. Para
ele, os profissionais que querem se manifestar nessas eleições devem
fazê-lo dentro dos limites das leis brasileiras. E minimiza ainda o que
chama de uma conversa informal com um paciente e que "confia no
julgamento do doutor".
"Se o doutor José está no consultório dele, que ele paga, pode
decidir usar uma camiseta do Aécio Neves. Em períodos eleitorais, é
muito comum os nossos pacientes perguntarem: 'doutor, o senhor vai votar
em quem? ou 'doutor, eu voto em quem?'. Temos que respeitar a liberdade
das pessoas”, justifica.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) foi procurado pelo iG para
avaliar a postura dos médicos em campanha dentros de hospitais e
clínicas. Mas o órgão não enviou divulgou um posicionamento até a
publicação desta reportagem.
Mais Médicos e a revolta da categoria
O discurso é uníssono entre os médicos pró-Aécio ouvidos pelo
reportagem: a aplicação do programa Mais Médicos, um dos pilares do
governo Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, foi o estopim para
despertar a revolta e o descontentamento da categoria. Com o objetivo de
alocar médicos em regiões com carência desses profissionais para
melhorar o atendimento básico, o programa gerou muita polêmica,
especialmente pelo envolvimento de um grande contingente de médicos
estrangeiros.
Desde que as regras do programa foram anunciadas, entidades médicas
criticaram a eficiência dos exames de avaliação dos contratados. O
Revalida, ao não ser aplicado a estes médicos não comprovaria o
conhecimento dos estrangeiros, segundo a AMB. Além do cenário
conflituoso, uma declaração da presidente parece ter incendiado a
relação da presidente com a comunidade médica.
Em abril deste ano, de acordo com reportagem do O Globo, Dilma
explicou que os médicos cubanos são mais requisitados pelos prefeitos
por serem “mais atenciosos que os brasileiros”. A fala gerou reação
oficial do Conselho Federal de Medicina (CFM), que divulgou uma carta
aberta considerando o episódio como uma “agressão direta e gratuita”.
Para Cardoso, presidente da AMB, o governo federal “tenta demonizar e
responsabilizar” os médicos brasileiros pela qualidade da saúde
pública, adotando ainda uma “política de agressividade e desconstrução
da classe” com o Mais Médicos. A cardiologista e administradora da
página Médicos com Aécio concorda com a AMB e aponta Dilma como
responsável por 'criar uma lenda' de que médicos brasileiros são
elitistas.
“Somos muito mal vistos pela população. O povo acreditou nessa lenda
que foi criada de que médico é elitista, que só gostamos de atender os
ricos, que não pensamos nos pobres e que não somos humanitários”,
desabafa. E continua: “Vamos dizer que 'Deus me livre e guarde' Aécio
Neves perca. A perseguição da classe vai ser implacável.”
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