Diretor de Vigilância das Doenças Transmissíveis, Cláudio Maierovitch, desmente os principais boatos sobre surto
Não há fundamento em boatos que associam o aumento da circulação do vírus zika no País a vacinas. É o que garante o diretor do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch.
Transmitido pelo mosquito Aedes Aegypi, o zika é o agente causador do surto de microcefalias em bebês que já conta no País com mais de 2.975 casos suspeitos e 40 mortes. Em entrevista aoPortal Brasil, o diretor afirma que o sistema de vacinas do Brasil é um dos mais seguros e avançados em termos mundiais, rebatendo os boatos de que a vacina contra a rubéola poderia ser o agente detonar do surto de microcefalia.
Em meio a boatos sem fundamentos, Maierovitch faz o alerta de que há vacinas que são importantes de serem aplicadas às mulheres grávidas para ajudar na imunização dos filhos.
Portal Brasil: Há fundamento nos boatos que relacionam aumento da circulação do zika vírus à imunização por vacina da rubéola?
Cláudio Maierovitch: Todas as vacinas usadas no Brasil são extremamente seguras. Temos ouvido boatos e, em minha opinião, boatos maldosos, sobre uma ou outra vacina... escutamos boatos sobre isso (em relação à rubéola) e em relação à vacina HPV (que previne câncer de colo de útero). E a gente lembra que a vacina HPV só é utilizada em meninas de 9 a 13 anos. Não tem relação nenhuma com o que está acontecendo. A vacina da rubéola compõe uma vacina chamada tríplice viral usada no Brasil inteiro e em várias outros países do mundo sem qualquer tipo de problema.
Portal Brasil:A vacina da rubéola é usada durante a gravidez?
Maierovitch: A vacina da rubéola não é usada durante a gestação. A única vacina aplicada rotineiramente durante a gestação é a vacina contra difteria, tétano e coqueluche, chama-se dtpa. Ela é importantíssima porque faz com que a mãe produza anticorpos que passam para a criança e o bebê nasce com proteção porque ele só vai receber essa vacina com dois meses de idade.
Portal Brasil: Então a mãe toma a vacina para proteger o bebê?
Maierovitch: No momento em que o bebê nasce até os dois meses ele tem que contar com a proteção que a mãe passou pra ele. Essa vacina não tem qualquer tipo de vírus ou agente vivo. Não tem risco nenhum de se relacionar com formação congênita. Não tem fundamento nenhum. Existem pessoas interessadas em dizer que as vacinas fazem mal e que não funcionam. Não sei com que interesses. Mas a gente pode assegurar que todas as vacinas utilizadas no Brasil são extremamente seguras equivalentes às que são utilizadas nos Estados Unidos, Europa, Canadá, Japão, todos países que tem saúde pública muito bem cuidada. Essa é uma questão muito bem cuidada no Brasil.
Portal Brasil: Quem deve tomar a vacina contra a rubéola?
Maierovitch: A vacina contra a rubéola faz parte do calendário da criança. Ela não é indicada na gestante e em geral quando a mulher chega em idade de engravidar ela já foi imunizada há muito tempo contra a rubéola, quando era criança. Quando houve uma campanha grande de imunização contra a rubéola foi realizado um estudo porque algumas também gestantes tomaram a vacina embora não tivesse sido recomendada para gestantes. E esse estudo acompanhou as gestantes e as crianças e verificou-se que não houve problemas para as mulheres e para as crianças. Não houve qualquer tipo de problema.
Portal Brasil: Em meio ao surto de microcefalia e maior risco de infecção pelo zika vírus, as mães devem continuar amamentando?
Maierovitch: Muita coisa ainda é desconhecida em relação ao vírus zika. As mães que tiveram infecção já há algum tempo e amamentam seus filhos hoje não têm que se preocupar.
Portal Brasil: Há casos do zika vírus no leite materno?
Maierovitch: Já houve algumas pesquisas em que se identificou a presença do vírus no leite materno, mas aparentemente esse vírus não era capaz de se reproduzir. Então, não se conhece atualmente nenhum caso de infecção pelo vírus zika que tenha sido adquirido pelo bebê mamando no peito da sua mãe. A recomendação do Ministério da Saúde é que isso não deva interferir na amamentação.
Portal Brasil: Há risco de transmissão do zika vírus pelo sangue. Que cuidados devem ser tomados?
Maierovitch: Os bancos de sangue já têm uma rotina para a triagem do sangue. Primeiro, faz-se uma entrevista com o doador e depois da coleta do sangue esse sangue passa por testes de laboratório. Esses testes são voltados para algumas doenças. Testes para sífilis, hepatites, aids, doença de Chagas, malária e alguns outros vírus identificados. Uma série de outros vírus não passam por testes de laboratório, ou porque não existem os testes ou porque as chances são pequenas ou gravidade baixa. O que se faz é uma entrevista cuidadosa em que se pergunta para o doador sobre hábitos, risco que possa ter tido de contaminação por vírus ou bactéria ou se toma algum tipo de medicamento.
Portal Brasil: Para prevenir infecção pelo zika vírus, o que deve ser feito?
Maierovitch: Os bancos de sangue têm sido orientados a dar muita atenção a isso e a perguntar se a pessoa teve, em período recente, especialmente nas últimas duas semanas, manchas vermelhas na pele e especialmente se isso foi acompanhado de febre. Não se sabe qual a chance de, tendo o doador tido a infecção de ele transmitir para o receptor. Esse é um tema que vem sendo pesquisado e discutido também pelo Ministério pela área que cuida do banco de sangue.
Portal Brasil: Deve-se redobrar cuidados em relação à coleta de sangue?
Maierovitch: Exatamente. Os profissionais que fazem as entrevistas, em geral médicos e enfermeiras, estão reforçando a atenção em relação a isso. Isso vale para a dengue também porque não existe um teste específico para dengue realizado em banco de sangue. O que existe é o cuidado na entrevista. Sempre se recomenda aos doadores que, caso após a doação, ele sinta alguma coisa que isso seja relatado ao banco de sangue para que os componentes do sangue doado não sejam usados. Ou, se já foram utilizados, que o banco de sangue verifique se os receptores tiveram o mesmo tipo de problema.
Portal Brasil: É para rastrear sangue infectado pelo zika vírus?
Maierovitch: Isso. Um rastreamento do caminho daquele sangue.
Portal Brasil: Há risco de transmissão do zika vírus por relação sexual?
Maierovitch: Existem poucos estudos que falam da transmissão do zika vírus pela via sexual. Aparentemente é possível, não tem sido notada, não tem sido observada como uma forma importante de transmissão, mas aparentemente é possível.
Portal Brasil: Que cuidados devem ser tomados?
Maierovitch: Como medida de precaução sugerimos que as pessoas que estão com a doença ou tiveram a doença recentemente, além dos cuidados habituais, recomendamos o uso de preservativos em todas as relações sexuais e que esses cuidados sejam mais intensos. Tem gente que não usa preservativo habitualmente e casais estáveis que pensam em ter filhos devem, nesse período (de maior circulação do zika vírus), usar preservativo para evitar qualquer possibilidade, ainda que pequena, de transmissão.
Portal Brasil: Como saber se uma pessoa está infectada pelo zika vírus?
Maierovitch: Estamos em um momento delicado porque temos três vírus (zika, dengue e chikungunya), circulando ao mesmo tempo no País. Os três transmitidos pelo mesmo mosquito muitas vezes na mesma região. Algumas das características causadas pelo vírus dengue, zika e chikungunya. Todas podem provocar febre. Em geral, a febre do zika é mais baixa e pode até não haver febre.
Portal Brasil: Na infecção por zika qual é o primeiro sintoma?
Maierovitch: A primeira coisa que a pessoa percebe são manchas na pele e coceira no corpo. A pele fica vermelha e áspera, com bolinhas em várias partes do corpo: nos membros, costas, pescoço e rosto. Pode aparecer febre um ou dois dias após o surgimento das manchas, os gânglios podem ficar inchados, pode haver inchaço e dor nas articulações.
Portal Brasil: E nos olhos, o que acontece?
Maierovitch: Não é uma conjuntivite em que a pessoa sente o olho incomodado como se estivesse com areia. Os olhos ficam vermelhos como se estivessem um pouco irritados. O mais comum é primeiro a coceira e manchas vermelhas, depois, vermelhidão nos olhos e febre.
Portal Brasil: Nesses casos, o que fazer?
Maierovitch: A pessoa deve procurar o serviço de saúde para identificar a doença. E não há um tratamento específico, não há medicamento que mate o vírus e que possa encurtar a doença. O que se recomenda é o uso de medicamentos para dor e febre que não sejam a base do ácido acetilsalecílico (fármaco encontrado no AAS, Aspirina, Melhoral)
Portal Brasil: Por que é importante registrar a infeção nas unidades de saúde?
Maierovitch: Na medida em que as pessoas procuram as unidades de saúde o sistema fica sabendo de infecção pelo vírus zika naquela localidade. Isso permite um alerta maior, para intensificação do combate aos mosquitos naquela localidade. Essa é a grande prevenção: eliminar os criadouros de mosquitos para evitar que se reproduzam e transmitam os vírus.
Fontes: Portal Brasil, com informações do Ministério da Saúde
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