por Ângelo Cavalcante* (recebi por whatsapp)
Negocia, pretinho da favela; copeira do bairro popular; serviçal da brenha! Negocia! Te quero ver negociando! Antes, toma banho, põe os dentes e passa a camisa. Quero muito te ver diante daquele engravatado engomado e rebuscado te citando leis, normas e, por fim, te dizendo um rotundo "não"! Você, tímido como é, vai babar de admiração diante do dialeto dos burocratas. Não, não se desespere... Toma teu santo, faz tua oração e vai na justiça do trabalho e que, por sinal, eles querem pôr fim!
Negocia, negocia tu que tanto ignorou o sindicato; que nunca foi numa assembléia, que se irritava com tanta paralisação e que no despautério corriqueiro, chegou a denunciar sindicalistas e associados de terem "vida mansa".
Vai lá... Negocia! Encara advogados, administradores e psicólogos da empresa, aquele pessoal especializado do RH; a mesma gente simpática, matreira e paciente que tem o condão de fazer você crer que, de fato, o grande errado não eram eles e que a bem da verdade, é você quem os deve.
Negocia! Negocia muito! Chora, pede, clama! Se não sabe, tu acabastes de perder teu único e verdadeiro patrimônio: o trabalho, essa dádiva fazedora de mundos! Não, o trabalho não é o que você faz, mais até, é o que ainda não fez mas que pode fazer e eles... Eles sabem que você pode!
É que o teu trabalho é essa energia que singra a história porque faz a história e que constrói mundos. No Brasil, porém, tu já vale menos, bem menos, que a bancada, o alicate e a ferramenta de suporte; vale menos que a pá, a betoneira ou o saco de cimento. Teu braço é bem menor do que a chave de fenda, teus olhos não valem a viseira ou o óculos de solda, tuas mãos já não merecem luvas. Tu és uma clausula menor, uma observação miúda lá no rodapé do contrato.
Sabe por que? É que teu corpo já não é teu; tuas sensibilidades foram apropriadas; teu sexo vai ficar no chão, esparramado por onde pisares. Você foi castrado e sequer viu! E o melhor das tuas sensações e delicadezas fora tomado tal qual um amo toma o soldo do seu servo.
Vai, negocia.. Negocia teu preço! Porque preço é o que tens, é o que te resta; coisa de produto, de mercadoria. Depois do fim das leis do trabalho, consegues identificar teu valor? Vai sonhando, vai...
*Ângelo Cavalcante - economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Itumbiara.
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