Publicado em 25/12/2008 Agência O Globo
A luta de classes – lembra dela? – voltou. Dizem que quem compra em lojas de grife na Quinta Avenida de Nova York está pedindo para botarem as compras em sacolas de supermercado, para evitar olhares raivosos na rua. A revolta com os “fat cats”, gatos gordos, cuja desonestidade e incompetência estão pondo abaixo a economia americana foi atiçada quando os executivos das três maiores montadoras de carro do país chegaram a Washington para pedir dinheiro ao governo, cada um no seu jato particular. A desculpa era que teriam ido de carro se seus carros fossem de confiança. Revelou-se que muitas das financeiras subsidiadas para não falirem estão usando parte da ajuda para dar as regalias e os milionários abonos de sempre aos seus executivos. O socorro ao capital financeiro mundial lembra aqueles programas adotados em países que em vez de combater o comércio de drogas dão dinheiro para o usuário manter seu vício sem precisar recorrer ao crime. As financeiras estão sendo pagas com dinheiro público para manter seus maus hábitos. Acho que foi o Paul Krugman quem escreveu, estes dias, que a única diferença entre o esquema do mega-vigarista Bernard Madoff e o que, em essência, faz todo o setor foi que o Madoff se auto-denunciou. Senão, ele também acabaria recebendo dinheiro para sustentar seu vício.
Resposta
Espero que não tenha acontecido com você o que aconteceu comigo. Papai Noel respondeu ao e-mail que mandei com meus pedidos de Natal, mas num tom irritado que em nada lembrava o jovial velhinho. Sarcástico, perguntou se eu tinha alguma idéia do que significaria, em termos de negociações, propostas e contrapropostas, inclusive com o marido – para não falar na logística da adequação dos seus contratos profissionais e, ainda por cima, a dificuldade para embrulhá-la adequadamente e colocá-la embaixo da árvore –, ele me dar a Catherine Zeta-Jones de presente. Argumentou que meu pedido estava completamente fora da realidade e que eu aparentemente não lia os jornais, senão saberia do seu total engajamento numa missão que exige toda a sua energia e todo o seu tempo: nada mais nada menos do que a salvar o sistema capitalista mundial. Contou que tinha sido recrutado para distribuir sacos e sacos de dinheiro a grandes empresas ameaçadas de falência e não tinha condições para atender pedidos sequer de bonecas de pano, o que diria de presentes mais caros como o meu, neste Natal. Estava convencido de que sua ajuda seria importante, talvez decisiva, mas temia que ela o debilitasse, financeiramente de maneira irreversível. “No próximo Natal estarei falido – e quem será o meu Papai Noel?”, perguntou, antes de me xingar de novo.
Consolo
(Da série “Poesia numa hora dessas?!”)
Console-se, é evidente:
um dia ainda vamos rir de tudo isto
histericamente
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