Páginas

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Performance de atletas é afetada por música, diz pesquisa

MARIANA LAJOLO da Folha de S.Paulo

Não é exagero dizer que Michael Phelps conquistou seus oito ouros em Pequim e estabeleceu a mais avassaladora performance da história das Olimpíadas embalado por música.
Todos os dias, cada vez que apontava atrás do bloco de partida, os fones de ouvido estavam lá, companheiros inseparáveis, levando a batida do rap a seus ouvidos e a seu cérebro.
O hábito que parece banal e é repetido por muitos outros esportistas, no entanto, pode ser ingrediente importante, até decisivo, nas engrenagens que fazem do americano o maior nadador de todos os tempos.
Ouvir a música certa antes ou durante a atividade atlética pode ajudar a melhorar a performance. Estudo da Universidade de Brunel, na Inglaterra, mapeou as ações do som no corpo humano durante os exercícios e chegou a uma lista de canções que podem dar um empurrãozinho aos esportistas.
"Sincronizar os movimentos ajuda a obter uma performance melhor. Em um de nossos recentes estudos, pessoas que pedalaram no ritmo usaram 7% menos oxigênio", diz Costas Karageorghis, professor associado de psicologia esportiva, em entrevista por e-mail.
Outro efeito da música é chamado de desassociação --capacidade de distrair a mente e alterar a percepção.
"Uma música pode inibir sensação de fadiga e fazer o atleta sentir mais prazer. Pesquisas mostram que a desassociação reduz em 10% a percepção do esforço feito em uma corrida de intensidade moderada", diz o pesquisador.
Phelps é um exemplo de como funciona a influência da música. Em Pequim, antes das provas, ouvia o rap de Young Jeezy. "Quebrei meu primeiro recorde mundial ouvindo música. Isso me deixou diferente na piscina, agitado. Não pensei em nada a não ser em nadar", disse a uma TV americana.
Para encontrar o som ideal, Karageorghis criou um questionário que aplica aos atletas --já soma mais de 1.200 títulos.
Uma das principais preocupações é casar a atividade esportiva com as bpm (batidas por minuto da música).Canções com 130 a 150 bpm, por exemplo, são ideais para prática de exercícios mais intensos, como corrida. Caminhadas a 5 km/h pedem músicas com cerca de 100 bpm.
O etíope Haile Gebreselassie, recordista mundial da maratona, usou essa tática para superar outro recorde. Ele percebeu que, se corresse no ritmo de "Scatman", de John Scatman, seria o mais rápido dos 2.000 m. Em uma competição em Birmingham, pediu para o sistema de som tocar a música durante a prova. Atingiu seu feito.
A brasileira Daiane dos Santos também usa os benefícios do som. Além de ser fã de samba, ela acredita que ritmos como o de "Brasileirinho" ajudam em sua performance no solo.
"Com uma música que empolga eu me sinto mais solta, mais feliz. Com ritmos mais lentos, parece que faço os movimentos mais forçados", afirma.
Até os tradicionais judocas do Japão já se renderam. Em sua passagem pelo país antes da Olimpíada, o brasileiro Leandro Guilheiro se espantou ao encontrar os aparelhos de som ligados durante o aquecimento.
A escolha, porém, não precisa ser só pelo ritmo. A ligação afetiva também conta. Natália Falavigna, por exemplo, ouve música gospel. Em Pequim, só tirou os fones para entrar na luta. Foi bronze no taekwondo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário