Renato Godoy de Toledo
da Redação Brasil de Fato
Após o primeiro grande embate entre o democrata Barack Obama e republicanos, imprensa e conservadores em geral, o projeto de reforma da saúde dos Estados Unidos ganha contornos mais nítidos. Mas, ao que tudo indica, a assistência médica na maior economia do mundo deve continuar sendo excludente e beneficiando as seguradoras de saúde – grandes financiadoras de campanha no país.
Como relata a película “Sicko”, do cineasta estadunidense Michael Moore, o modelo de saúde dos EUA não tem qualquer princípio de solidariedade, em que os impostos de todos propiciam atendimento a todos. O diretor revela o medo do “americano médio” acerca de uma “medicina socializada”, como a do Canadá, França e Cuba – país para o qual Moore leva alguns pacientes para finalmente serem tratados.
Essa repulsa ao Estado cuidando da saúde – e intervindo no cotidiano das famílias, segundo tal lógica – foi construída durante a Guerra Fria, unindo interesses dos governantes e das seguradoras.
Com a proposta inicial de Obama, que visava criar uma opção pública de assistência médica, para concorrer com seguros privados, a medicina socializada voltou a “assombrar” a população dos EUA. A direita, representada no Partido Republicano e em veículos de imprensa, passou a criticar o fato de os impostos dos ricos serem elevados para que pobres fossem assistidos. Segundo tal argumento, o presidente visava atender gratuitamente imigrantes ilegais e financiar abortos. Experimentando a maior impopularidade desde sua posse, Obama tratou de desmentir isso.
Recuos
No dia 16, o senador democrata Max Baucus apresentou um esboço do projeto que deve reformar a saúde dos EUA. Ficam claras no projeto as concessões às demandas republicanas. A questão da participação do Estado, da austeridade fiscal e das bandeiras morais foram contempladas pelo texto apresentado por Baucus.
Inicialmente, as mudanças estavam orçadas em mais de 1 trilhão de dólares em dez anos. Foram reduzidas para US$ 856 bilhões. As restrições ao atendimento de imigrantes ilegais e ao aborto tornaram-se textuais.
“Os recuos do presidente Obama têm sido impressionantes e numerosos. Ele permitiu que a indústria de seguros privados de saúde influenciasse profundamente a legislação e que continuasse realizando super-lucros à custa da vida dos americanos. O plano de Obama vai deixar milhões de pessoas sem seguro de saúde. Um novo estudo mostra que 45 mil pessoas morrem todos os anos por falta de seguro de saúde. São 122 mortes a cada dia”, relata Helen Redmond, profissional da saúde em Chicago e membro da Single-Payer Action Network, organização que reivindica um sistema de saúde universal nos EUA.
A grande mudança é que haverá uma ampliação das verbas do Medicaid, programa destinado à população pobre. Muitos estados repassam verba para que a iniciativa privada faça os atendimentos desse público.
Ainda devem ser aprovadas medidas que oferecem crédito para que os mais pobres possam obter uma cobertura mínima de saúde, que deverá ser obrigatória a partir de 2013. A multa para quem não tiver um plano chega a 3.800 dólares. Também está prevista a proibição da recusa dos planos de saúde à adesão de pacientes com doenças preexistentes.
Ignorância
Para Stephen Lendman, do Centro de Pesquisa da Globalização, de Chicago, a oposição dos estadunidenses a um sistema público e universal de saúde advém do desconhecimento. “A maioria dos cidadãos dos EUA não sabe quais são as questões e os riscos da saúde universal, porque a nossa mídia corporativa mente para eles. Muitos saem às ruas e protestam equivocadamente. Eles não percebem que a única reforma verdadeira é a saúde universal”, analisa.
De acordo com ele, as pesquisas que apontam a maioria contra um sistema universal de saúde teriam resultados diferentes se as perguntas fossem feitas de outra forma. “A palavra "socializada" é um chavão. Novamente, a maioria das pessoas simplesmente não entende o que é isso. Mas se lhes for perguntado: ‘você gostaria de receber atendimento médico gratuito quando se aposentar?’, quase todos diriam que sim. E isso é a medicina socializada”, considera Lendman.
Helen Redmond acredita que a maioria dos estadunidenses desejam, sim, um sistema de saúde público e universal. “A maioria dos americanos quer um sistema de saúde nacional, sem fins lucrativos, e financiado pelo governo. Eles querem que o governo garanta cuidados de saúde como um direito humano. Pesquisas e mais pesquisas demonstram isso”, afirma.
Segundo Redmond, quem defende o contrário são as seguradoras que, com seu poder de compra de representantes públicos, estão vencendo, até o momento, e devem sair vitoriosas desse processo. “É o setor de seguros privados que se opõe à mudança, porque significa que eles vão sair do negócio e perder os bilhões de lucros que eles têm todos os anos. Eles estão gastando 1,4 milhão de dólares por dia comprando políticos, em acertos de bastidores, para se certificar de que isso não aconteça. Infelizmente, eles estão ganhando”, denuncia.
Como relata a película “Sicko”, do cineasta estadunidense Michael Moore, o modelo de saúde dos EUA não tem qualquer princípio de solidariedade, em que os impostos de todos propiciam atendimento a todos. O diretor revela o medo do “americano médio” acerca de uma “medicina socializada”, como a do Canadá, França e Cuba – país para o qual Moore leva alguns pacientes para finalmente serem tratados.
Essa repulsa ao Estado cuidando da saúde – e intervindo no cotidiano das famílias, segundo tal lógica – foi construída durante a Guerra Fria, unindo interesses dos governantes e das seguradoras.
Com a proposta inicial de Obama, que visava criar uma opção pública de assistência médica, para concorrer com seguros privados, a medicina socializada voltou a “assombrar” a população dos EUA. A direita, representada no Partido Republicano e em veículos de imprensa, passou a criticar o fato de os impostos dos ricos serem elevados para que pobres fossem assistidos. Segundo tal argumento, o presidente visava atender gratuitamente imigrantes ilegais e financiar abortos. Experimentando a maior impopularidade desde sua posse, Obama tratou de desmentir isso.
Recuos
No dia 16, o senador democrata Max Baucus apresentou um esboço do projeto que deve reformar a saúde dos EUA. Ficam claras no projeto as concessões às demandas republicanas. A questão da participação do Estado, da austeridade fiscal e das bandeiras morais foram contempladas pelo texto apresentado por Baucus.
Inicialmente, as mudanças estavam orçadas em mais de 1 trilhão de dólares em dez anos. Foram reduzidas para US$ 856 bilhões. As restrições ao atendimento de imigrantes ilegais e ao aborto tornaram-se textuais.
“Os recuos do presidente Obama têm sido impressionantes e numerosos. Ele permitiu que a indústria de seguros privados de saúde influenciasse profundamente a legislação e que continuasse realizando super-lucros à custa da vida dos americanos. O plano de Obama vai deixar milhões de pessoas sem seguro de saúde. Um novo estudo mostra que 45 mil pessoas morrem todos os anos por falta de seguro de saúde. São 122 mortes a cada dia”, relata Helen Redmond, profissional da saúde em Chicago e membro da Single-Payer Action Network, organização que reivindica um sistema de saúde universal nos EUA.
A grande mudança é que haverá uma ampliação das verbas do Medicaid, programa destinado à população pobre. Muitos estados repassam verba para que a iniciativa privada faça os atendimentos desse público.
Ainda devem ser aprovadas medidas que oferecem crédito para que os mais pobres possam obter uma cobertura mínima de saúde, que deverá ser obrigatória a partir de 2013. A multa para quem não tiver um plano chega a 3.800 dólares. Também está prevista a proibição da recusa dos planos de saúde à adesão de pacientes com doenças preexistentes.
Ignorância
Para Stephen Lendman, do Centro de Pesquisa da Globalização, de Chicago, a oposição dos estadunidenses a um sistema público e universal de saúde advém do desconhecimento. “A maioria dos cidadãos dos EUA não sabe quais são as questões e os riscos da saúde universal, porque a nossa mídia corporativa mente para eles. Muitos saem às ruas e protestam equivocadamente. Eles não percebem que a única reforma verdadeira é a saúde universal”, analisa.
De acordo com ele, as pesquisas que apontam a maioria contra um sistema universal de saúde teriam resultados diferentes se as perguntas fossem feitas de outra forma. “A palavra "socializada" é um chavão. Novamente, a maioria das pessoas simplesmente não entende o que é isso. Mas se lhes for perguntado: ‘você gostaria de receber atendimento médico gratuito quando se aposentar?’, quase todos diriam que sim. E isso é a medicina socializada”, considera Lendman.
Helen Redmond acredita que a maioria dos estadunidenses desejam, sim, um sistema de saúde público e universal. “A maioria dos americanos quer um sistema de saúde nacional, sem fins lucrativos, e financiado pelo governo. Eles querem que o governo garanta cuidados de saúde como um direito humano. Pesquisas e mais pesquisas demonstram isso”, afirma.
Segundo Redmond, quem defende o contrário são as seguradoras que, com seu poder de compra de representantes públicos, estão vencendo, até o momento, e devem sair vitoriosas desse processo. “É o setor de seguros privados que se opõe à mudança, porque significa que eles vão sair do negócio e perder os bilhões de lucros que eles têm todos os anos. Eles estão gastando 1,4 milhão de dólares por dia comprando políticos, em acertos de bastidores, para se certificar de que isso não aconteça. Infelizmente, eles estão ganhando”, denuncia.
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