Pouca gente notou, mas a entrevista que o governador Roberto Requião concedeu à revista Carta Capital contém o preço que ele cobra para aderir à frente ampla que o PT quer montar no Paraná em apoio a Dilma Rousseff. O preço é, nada mais nada menos, de que o PT retire a candidatura de Gleisi Hoffmann ao Senado.
Pode até parecer uma interpretação exagerada, mas, pensando bem, o que ele quis dizer com esta frase, reproduzida da entrevista?
"Não sou contra um acordo com o PT, apesar do comportamento deles aqui no Paraná (que costuram apoio a Osmar Dias, do PDT). É um acerto que só tem um objetivo aqui: abrir uma vaga para o Senado a um nome do PT."
Tentemos traduzir o raciocínio de Requião:
• A vaga para o Senado a que Requião se refere é a que será deixada pelo senador Osmar Dias, que não vai concorrer à reeleição para disputar o governo.
• Com isso, abrem-se duas vagas – a de Osmar e a outra pelo término do mandato do ex-petista Flávio Arns.
• São três os candidatos mais fortes às duas vagas: pela esquerda vinculada ao governo Lula, Requião e Gleisi; pela oposição, vinculada ao presidenciável José Serra e ao PSDB e aos demais partidos mais à direita, o deputado Gustavo Fruet.
• Requião imagina que as oposições ao seu desgastado governo, ao lulismo e ao PT deverão descarregar seus votos na chapa tucana. No caso, Fruet poderá fazer votação suficiente para se eleger.
• Considerando tal possibilidade, contra a qual pouco pode fazer, o adversário mais direto de Requião será Gleisi Hoffmann e não Gustavo Fruet.
• Requião sabe que a máquina da campanha de Dilma e o prestígio de Lula serão direcionados para eleger Gleisi Hoffmann. Logo, não é improvável que Requião amargue um terceiro lugar ou uma apertadíssima eleição – experiência terrível que ele já sofreu em 2006, quando derrotou Osmar Dias por míseros 10 mil votos.
• Assim, se quiser folga, tranquilidade e caminho livre para fazer uma votação expressiva, Requião acredita que o melhor é que o PT não lance candidato para o Senado. Ao contrário, quer que o PT, Dilma e Lula derramem suas bênçãos exclusivamente sobre a sua própria candidatura.
Em troca, fingirá apoio ao candidato do PMDB, o vice-governador Orlando Pessuti e liberará o resto do partido – principalmente os deputados ameaçados de não se reeleger – para integrar-se às campanhas que melhor lhes aprouverem. Como se sabe, há dentro do PMDB quem prefira ligar-se a Beto Richa ou a Alvaro Dias e há, também, os que acham melhor para si próprios aderir a Osmar Dias. Poucos, hoje em dia, acreditam que Pessuti possa lhes favorecer a reeleição.
O recado do governador não foi dado apenas na entrevista. Já o transmitiu ao próprio presidente Lula. Até agora não recebeu de volta nenhum eco. E o mais provável é que não receberá. Mas não custa tentar.
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