Nas capitais, há excesso de profissionais. Se houvesse uma melhor distribuição, todos poderiam ser bem atendidos
Em 2000, havia no país 260.216 médicos, e em 2009 esse número aumentou para 330.825, um crescimento de 27%. Nesse mesmo intervalo de tempo, a população cresceu aproximadamente 12% – de 171.279.882 para 191.480.630, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Esta tística (IBGE). Com isso, a proporção de médicos no país melhorou. Enquanto em 2000 havia um médico para cada grupo de 658 habitantes, em 2009 a situação passou a ser de um médico para 578 pessoas, segundo números divulgados pelo Con selho Federal de Medicina.
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Cidades têm vantagens, mas não conseguem competir
“Quero me aposentar aqui”, brinca o médico Miguel Espínola, que tem 20 anos de profissão e cumpre expediente diário no posto de saúde de Laranjal, município com 6,3 mil habitantes no Centro-Oeste do Paraná. Ele deixou Santa Catarina há um ano e meio para trabalhar no interior do Paraná. E gostou da troca. “Gosto daqui porque o ambiente de trabalho é bom”, afirma.
54% dos médicos do PR estão em Curitiba
A cada ano cerca de 800 novos médicos se formam nas nove escolas de Medicina do Paraná. O estado tem hoje 16.894 médicos. Desses, 8.661 estão em Curitiba. De acordo com o levantamento do Conselho Federal de Medicina, 46% dos profissionais do estado estão fora da capital. E a maior parte deles acaba concentrada nas cidades grande do interior. Londrina, por exemplo, tem 1.700 médicos; Maringá, 1.093; e Cascavel, 598. Dos 399 municípios do estado, 68 contam com apenas um médico residente.
A maior parte dos médicos está na região Sudeste do país, que concentra 42% da população e 55% dos médicos. São 439 habitantes por profissional. Somente em São Paulo estão 30% dos médicos brasileiros – o estado abriga 21% da população. Já na região Nordeste há um médico para cada 968 habitantes; e no Norte essa proporção chega a um profissional para cada grupo de 1.130 pessoas.
A distribuição entre capital e interior também é desigual nos estados. Sergipe tem 92% dos médicos na capital. Em Roraima, são 10.306 habitantes por médico em cidades do interior. Há apenas 15 profissionais domiciliados fora da capital.
O resultado de tudo isso é que, enquanto algumas cidades apresentam índices similares aos dos melhores países europeus, outras localidades podem ser comparadas a países pobres africanos. Curitiba, por exemplo, tem um médico para 227 habitantes, média similar à de países como Alemanha, Bélgica e Suíça, que possuem um médico em atividade para cada grupo de 285, 248 e 259 habitantes respectivamente. No entanto, no interior do Amazonas há apenas um médico para cada grupo de 8.944 habitantes. Número comparável ao de países como Guiné-Bissau (8.333) ou Angola (12.600).
Para o presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto Luiz d’Avila, é evidente que não faltam médicos no país. “O que falta é uma política capaz de fixar os médicos no interior. Para isso defendemos a criação de uma carreira de Estado, com a implantação de planos de cargos, carreiras e vencimentos. Algo semelhante ao que acontece no Judiciário. O médico, no início de carreira, seria enviado ao interior. E, depois, teria a oportunidade de ir para as grandes cidades”, afirma.
Para o 1.º secretário do CFM e responsável pelo levantamento, Desiré Carlos Callegari, as medidas adotadas pelo governo para tentar promover a interiorização não foram efetivas. “O governo tentou aumentar o número de médicos no interior do Nordeste oferecendo bolsas de residência. Mas isso não resolve, porque depois que acabam a residência esses médicos voltam aos grandes centros”, diz.
Além da criação de um plano de carreira, as lideranças médicas defendem a necessidade de maior investimento em estrutura e condições de trabalho. “A presença de uma equipe e de recursos para exames e tratamentos às vezes é mais importantea para atrair o médico do que apenas o salário. Caso contrário, um médico em início de carreira acaba preferindo ficar na capital fazendo plantão”, diz Gerson Zafalon Martins, 2.º secretário do Conselho Federal de Medicina. Hoje, o salário médio inicial da categoria gira em torno de R$ 2,5 mil.
O Brasil é hoje o segundo país do mundo em número de escolas de Medicina. Com 175 faculdades, perde apenas para a Índia, que tem 272. A cada ano, o Brasil forma 18 mil profissionais. Mesmo assim, o governo estuda a revalidação automática de diplomas para médicos estrangeiros. “É inaceitável que com tudo isso o governo ainda queira importar médicos. Se eu estudo Medicina no Brasil, não posso ir para outro país e trabalhar como médico. Tenho de fazer uma prova, passar por um processo de validação do diploma. Por que, então, um médico que estudou fora poderia vir para cá e trabalhar sem passar por nenhuma avaliação? Sem falar que muitas vezes são médicos de formação duvidosa, que não conhecem as características do nosso sistema de saúde nem a realidade epidemiológica do Brasil. Ou ainda não falam nossa língua”, afirma d’Ávila.
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