Dos 277 casos registrados pela instituição no ano passado, 67% foram no ambiente doméstico. Outros estudos já apontam o nú cleo familiar como lugar da maioria das ocorrências de maus-tratos. O mais grave nos dados do hospital, no entanto, é o alto índice de reincidência. Em 41% dos casos, ou seja, 4 entre 10, não foi a primeira vez que a agressão ocorreu.
Dos casos atendidos, 57,42% ocorreram na própria residência da vítima e em 12% na casa de parentes próximos, como avós, tios, irmãos e primos. As agressões foram praticadas pelos pais em 30% dos casos, sendo o pai, em particular, o responsável por 17,56%. Outro dado revelador dessa estatística é que só 5% dos agressores não faziam parte do convívio da vítima. Isso significa que vizinhos e conhecidos respondem por um quarto das ocorrências.O número sofreu retração em 2009, se comparado aos anos anteriores – 305 ocorrências em 2007 e 354 no ano seguinte. Mas os técnicos do hospital alertam que isso não representa redução da violência. Os registros caíram porque também diminuiu o número geral de atendimentos da instituição, queda atribuída à epidemia de gripe A (H1N1), que levou a população a evitar os serviços de saúde no ano passado. O Hospital Pequeno Príncipe é referência no atendimento às crianças vítimas de violência sexual e maus tratos.
Do total de atendimentos, 66,78% foram de violência se xual e 17% agressões físicas. De cada 10 agressores, 8 eram do sexo masculino, e 6 entre 10 vítimas, meninas. Em 56% dos casos elas tinham até 5 anos e 7% não haviam completado um ano.
Segundo a chefe do serviço de psicologia do Hospital Pequeno Príncipe, Daniela Carla Prestes, as agressões são acompanhadas de violência psicológica e, em alguns casos, de negligência, pois ocorre com o consentimento de um dos responsáveis.
A criança menor é mais vulnerável por ter menos poder de reação, não ter linguagem apurada e ser fisicamente inofensiva. Para Daniela, fatores socioeconômicos podem potencializar os maus-tratos, mas eles acontecem mesmo por razões psíquicas. Na maioria dos casos o agressor já está emocionalmente fragilizado, pode ser por estresse ou insegurança, por exemplo. Significa dizer, portanto, que a violência pode ocorrer tanto nas famílias pobres quanto nas ricas.
Fatores culturais também explicam o fenômeno. Muitos pais supõem ter poder sobre os filhos, acreditam-se donos deles e acham que podem fazer as relações familiares a seu modo. “É como se estivessem acima do bem e do mal nessas questões”, diz Daniela. Muitas vezes associam educação à violência, sem distinguir o limite entre corrigir e agredir. Não raro, isso se dá porque não sabem muito bem o que esperar de cada faixa etária. Esperam, por exemplo, que uma criança de 3 anos tenha a compreensão de uma de 5. É quando a correção passa a ser punição
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