A vitória de Beto Richa (PSDB) no Paraná representa uma ameaça ao movimento social no Estado.
.Por Cesar Sanson* no blog Lado B
Entre os perdedores do resultado eleitoral do Paraná está o movimento social. Entre suas propostas de campanha, Beto Richa (PSDB) prometeu a defesa intransigente da propriedade privada, dureza contra as ocupações de terra e rigor nas reintegrações de posse. Teme-se com Beto Richa uma reedição do governo Jaime Lerner na relação com o movimento social. Lerner, governador por oito anos (1994-2002), introduziu um regime de terror no campo com despejos violentos na madrugada, prisões arbitrárias e torturas contra militantes do MST. Em seu governo, os conflitos e as mortes no campo aumentarem significativamente. O uso do aparelho militar do estado se estendeu também contra o movimento sindical e popular.
Beto Richa, apesar de afirmar que não tem relações com Lerner, quando se trata do movimento social reproduz o discurso lernista de rancor e ódio contra as organizações populares. Ao mesmo tempo é avesso a mecanismos de participação popular e procura desqualificar vozes dissonantes da sua administração. Registre-se que Osmar Dias (PDT), derrotado nesse domingo, também possui um histórico pouco amigável com o movimento social. Sua trajetória política sempre foi associada e ligada à defesa dos interesses do agronegócio.
A diferença, entretanto, entre Beto Richa e Osmar Dias reside no fato de que num eventual governo de Osmar existiria espaço para interlocução considerando-se que o seu governo seria de coalização com o PT e o PMDB. Já no governo Beto Richa que se aproxima, a coalizão que lhe sustenta é de nítida configuração de direita e não haverá espaços para negociação. Não há centro na aliança de Beto Richa. O pêndulo oscila apenas do centro para a direita. Tudo indica que o governo do PSDB paranaense será duríssimo com o movimento social, identificado como adversário e inimigo a ser combatido.
Quando prefeito de Curitiba, Beto Richa já deu mostras de pouca tolerância em conviver com as críticas e a oposição. O seu modus operandi é identificar quem são as forças contrárias e na medida em que não consegue sufocá-las procura cooptá-las. Aos núcleos de resistência e críticas da sua administração na periferia de Curitiba, Beto Richa quando prefeito, através de sua esposa Fernanda Richa, promoveu uma agressiva política clientelista. Foi ganhando os bolsões de miséria da cidade com farta distribuição de benesses clientelísticas e alguns equipamentos sociais estrategicamente situados.
Beto Richa é o tipo do político que faz com que os cidadãos pensem que os direitos que têm não são um dever do Estado, mas uma benevolência do mandatário, um gesto de generosidade de quem está no poder.
O futuro governo do Paraná nada tem de “gestor moderno” tal como se apregoa. Ele faz política de um modo tradicional. A sua habilidade reside em ter juntado as velhas oligarquias do campo com o capital transnacional, assim como foi o elo entre os “antigos” políticos ligados ao seu pai, de corte democrata, aos recentes lernistas neoliberais.
Uma mostra recente do político tradicional que é, foi a impugnação que protagonizou contra as pesquisas eleitorais. Sentindo-se ameaçado, não tem escrúpulos em utilizar métodos nada democráticos. Após o anúncio da sua vitória, ouviu-se de um militante do movimento social: “Teremos agora o governo do ‘coronelzinho das araucárias’”..
(*) Cesar Sanson é doutor em Sociologia pela UFPR e pesquisador do Cepat/Casa do Trabalhador.
(*) Cesar Sanson é doutor em Sociologia pela UFPR e pesquisador do Cepat/Casa do Trabalhador.
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