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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A diretora-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Margaret Chan, elogiou nesta segunda-feira o fato de o papa Bento 16 admitir a utilização de preservativos em certos casos para reduzir o risco de transmissão do vírus da Aids.

A diretora-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Margaret Chan, elogiou nesta segunda-feira o fato de o papa Bento 16 admitir a utilização de preservativos em certos casos para reduzir o risco de transmissão do vírus da Aids.

"Saúdo essa posição. Pela primeira vez, a utilização de preservativos em certas circunstâncias é admitia pelo Vaticano. É uma boa notícia e um bom começo", afirmou Chan, em Berlim, onde apresentou o relatório anual de sua organização.

Mais cedo, o diretor do programa Unaids, criado pela ONU para combater a propagação do vírus da Aids, afirmou que a declaração é um "passo adiante significativo e positivo do Vaticano".

"Este avanço reconhece que um comportamento sexual responsável e o uso do preservativo têm um papel importante na prevenção do HIV-Aids", completa a nota, assinado por Michel Sidibé.

Em um livro que será lançado nesta terça-feira na Alemanha e na Itália, Bento 16 afirma que o uso de preservativos é aceitável "em certos casos", especialmente para reduzir o risco de infecção do HIV, mas insiste que não é a "verdadeira" maneira para combater a Aids --já que para ele é necessária uma "humanização da sexualidade".

A declaração, uma brecha na rígida postura da Igreja Católica contra o uso de preservativos, causou reação imediata do Vaticano --que ressaltou o "caráter excepcional" do uso da camisinha nas declarações feitas pelo papa e insistiu que o uso do preservativo é justificado apenas "em alguns casos" e não constitui uma solução ao problema.

O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, declarou que o pontífice falou a respeito de uma "situação excepcional". "O papa considerou uma situação excepcional na qual o exercício da sexualidade é um perigo real para a vida do outro", afirma Lombardi, em um comunicado.

A nota, pouco usual do Vaticano, descarta que as declarações do pontífice possam ser definidas como uma "mudança revolucionária" e reitera que para os casos excepcionais "o papa não justifica o exercício desordenado da sexualidade, e sim considera o uso do preservativo para diminuir o perigo de contágio como "um primeiro ato de responsabilidade"".

OBRA

O livro do papa, intitulado "Light of the World: The Pope, the Church and the Signs of the Times" (Luz do Mundo: O Papa, a Igreja e os Sinais do Tempo, em tradução livre), é baseado em 20 horas de entrevistas conduzidas pelo jornalista alemão Peter Seewald.

Alguns capítulos do livro foram publicados neste domingo pelo jornal do Vaticano, o "L'Osservatore Romano". Leia trechos

A declaração surpreendente, apesar de não questionar a proibição da camisinha na doutrina da Igreja, foi considerada um passo importante que muda a imagem ultraconservadora do pontífice alemão, segundo analistas.

"O papa deu o passo em um momento maduro, que já era esperado por muitos teólogos e conferências episcopais', afirmou o vaticanista Luigi Accatoli do jornal "Corriere della Sera".

A inédita abertura do chefe da Igreja Católica ao uso do preservativo, rejeitado de todos os modos até o momento, abre o debate dentro da instituição sobre uma aceitação ou não do uso da camisinha como um "mal menor" para salvar vidas.
Importantes nomes da Igreja, como os cardeais Carlo Maria Martini e o africano Peter Kodwo Appiah Turckson, já haviam se pronunciado publicamente a favor do uso da camisinha em casos específicos, como quando um dos membros do casal está contaminado.
A nova posição de Bento 16 certamente influenciará o debate, já que até agora a Igreja defendia apenas a abstinência como método de prevenção da doença, e apresenta um rosto mais humano e aberto do primeiro pontífice alemão da era moderna, que ficou conhecido como guardião do dogma durante o pontificado de João Paulo 2º.


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