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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Uma morte a cada três dias nos manicômios de Sorocaba

Uma morte a cada três dias: esta é uma das conclusões de um estudo divulgado pelo Fórum da Luta Antimanicomial de Sorocaba; diretor de um dos hospitais psiquiátricos da cidade questionada a metodologia e diz que são números questionáveis: “São poucas ou são muitas as mortes?”

Carla de Campos

Uma morte a cada três dias. Esta é uma das conclusões de um estudo divulgado pelo Flamas (Fórum da Luta Antimanicomial de Sorocaba) que analisa fatores como índice e causas de mortes em hospitais psiquiátricos da região. A pesquisa abrange sete instituições, quatro delas em Sorocaba; duas em Salto de Pirapora e uma em Piedade.
O levantamento foi baseado em dados do Ministério da Saúde, obtidos pelo sistema Data Sus (banco de dados do Sistema Único de Saúde) e SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade).
De acordo com o professor Marcos Garcia, doutor em Psicologia Social e membro do Flamas, entre os anos de 2006 e 2009, foram registradas 233 mortes em Sorocaba, a maioria delas no Hospital Vera Cruz (102 óbitos), seguido pelo Hospital Mental (46), Teixeira Lima (45) e Jardim das Acácias (40).
“Quando começamos a ver os dados, nos chamou a atenção a idade média das mortes, entre 48 e 49 anos, e as causas”, aponta. Segundo ele, a comparação com estudos internacionais assusta, pois o portador de doença mental em média vive 10 anos a menos do que o restante da população. “No Brasil, a expectativa de vida é 73 anos. Logo, ficamos com 63, muito diferente da média precoce registrada nesta região”, analisa.
As principais causas das mortes são infarto e pneumonia. “É curioso isso dentro de um hospital. As mortes por infarto, por exemplo, atingem pessoas jovens”, diz. Para o psicólogo Lúcio Costa, também do Flamas, o papel dos hospitais é duvidoso. “Eles não tratam. Eles segregam”, aponta. Por isso, afirma, a proposta do fórum é que o poder público assuma o tratamento dos pacientes, levando-se em conta a reforma da política psiquiátrica no país, com a implantação dos Caps (Centros de Atenção Psicossocial), as residências terapêuticas, centros de convivência, entre outros.

Estudo do Fórum é duvidoso, aponta diretor de hospital
Para o diretor do Hospital Vera Cruz, Eduardo Zacarias, a metodologia usada para o levantamento realizado pelo Flamas é questionável. “Estes números apresentados são poucos ou são muitos? Não dá para saber, pois falta metolodologia científica”, aponta o diretor.

Segundo ele, para ter credibilidade o estudo deveria comparar primeiramente o índice de mortes na população em geral, analisando também o número de mortes em hospitais gerais para só então chegar aos pacientes mentais.
A atuação dos hospitais psiquiátricos, segundo ele, são fundamentais no atendimento ao paciente e podem complementar um rede que ofereça assistência permanente.
Uma diária no Hospital Vera Cruz custa R$ 35. Deste valor, descontados os impostos, sobram cerca de R$ 17 para cuidar do atendimento dos internos e da manutenção da unidade. A instituição é a maior de Sorocaba em número de leitos e uma das que sofre diretamente com o baixo repasse governamental.
O diretor administrativo da entidade, Francisco Mussi Júnior, lembra que não faltam despesas, com alimentação, medicamentos, lavanderia ou estrutura. “ Mas a família não cuida e muitos são agressivos. A saída é levar ao hospital”, afirma. “Se estes pacientes não estivessem no instituição estariam nas ruas, onde o índice de mortes certamente é bem maior”, completa.
O diretor lembra ainda que muitos pacientes são encaminhados pelo Hospital Regional, logo após a detecção de problemas psiquiátricos. Não é raro que eles também estejam com a saúde comprometida, com doenças graves, infeccções, hipertensão ou complicações típicas do envelhecimento.
“Não é por falta de alimentação ou de atendimento no hospital, onde são bem tratados. As pessoas deveriam participar mais para ver a real dificuldade do dia a dia”, finaliza.

Rede de atendimento no município
São 13 unidades que integram a rede municipal de assistência à Saúde Mental. Entre elas os maiores em número de atendimento são:

- Ambulatório Municipal de Saúde Mental. Atendimentos/mês: 3.750
- Centro de Atenção Psicossocial (CAPS I) – Associação Criança. Atendimentos/mês: 1.795
- CAPS II C – Jardim das Acácias. Atendimento/mês: 3.470
- CAPS I – CAPSIA – VERA CRUZ. Atendimentos/mês: 2.320


1.289
é o número de leitos psiquiátricos do SUS em Sorocaba. A cidade só perde para o Rio de Janeiro.

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