Os dados do Censo de 2010 publicados pelo IBGE relacionados à assistência medico-sanitária no Brasil mostram uma realidade preocupante: a redução de mais de 50 mil leitos hospitalares nos últimos dez anos, agravada pelo fato de a população brasileira ter crescido em mais de 20 milhões no mesmo período.
Se considerarmos que no mesmo período o número de brasileiros que possuem planos de saúde passou de 38 milhões para 46 milhões, e que ocorreu um envelhecimento da nossa população decorrente do aumento da expectativa de vida do brasileiro, tudo isso associado a um crescente número de pessoas portadoras de doenças crônicas, chegamos à indesejável conclusão que não temos uma estrutura sanitária capaz de atender à demanda de toda a população no modelo centrado em hospitais com que estamos habituados a conviver.
Já estão faltando leitos hospitalares para nossa população na maioria das regiões geográficas do Brasil. E o que é pior: não existe um planejamento de ações para corrigir-se esse monumental déficit de leitos hospitalares, nem no setor público, nem no privado.
Para se ter uma ideia desse vazio sanitário, o Sindicato dos Hospitais do Rio está concluindo um censo demográfico na saúde carioca, e os dados preliminares revelam que existem regiões na cidade em que a relação leitos hospitalares/mil habitantes é de somente 1,7, quando o recomendado pela Organização Mundial de Saúde é de 4,5.
Embora corrigir este vazio dependa de políticas públicas e de incentivos econômicos, financeiros e de qualificação de rede para o setor privado, temos todos - setor público e privado - de investir imediatamente e cada vez mais em políticas de atenção à saúde com base em ações preventivas. Uma das prioridades é reduzir essa descontrolada escalada de crescimento das enfermidades crônicas que estão inviabilizando economicamente os sistemas de saúde de todo o mundo, e construir um novo modelo assistencial com integração de todo o ciclo de cuidado, incluindo o incentivo ao crescimento dos programas de saúde na família em ambiente domiciliar, nos programas de saúde pública e privada.
Somente assim conseguiremos, no curto prazo, compatibilizar as necessidades dos pacientes com a quantidade reduzida de leitos hospitalares atualmente existente, sem qualquer prejuízo para os usuários. Está na hora de fazermos uma reforma sanitária estruturante e inovadora no Brasil.
COMENTÁRIO: Os dados do 'Globo' estão equivocados em vários aspectos. Vejamos:
- A relação de leitos por habitante recomendada é extremamente variável e dependente do modelo assistencial vigente em cada país. A relação adotada no Brasil é de 2,5 a 3 leitos hospitalares/1000 habitantes. Esta é a relação compatível com a realidade brasileira e adotada pelo Ministério da Saúde.
- Qual a explicação? Simples: aqui no nosso país, o índice de internamentos caiu muito, produto de políticas públicas como a expansão da Atenção Primária, vacinação, redistribuição de renda, combate a fome etc. Na década de 90 o indice de internamentos era de 10% da população/ano, hoje gira em torno de 8%, com tendência decrescente. Quando a média das Américas era de 10%, a relação nos EEUU era de 25%!!!! País sem sistema público de saúde e com modelo predominantemente hospitalocêntrico...
- Quase 50% dos hospitais no nosso país tem menos de 50 leitos. Economicamente, são hospitais inviáveis. Para dar giro financeiro e não ter deficit, o recomendável é ter em torno 100 leitos.
- A maioria destes hospitais - com menos de 50 leitos - está situada em municipios com menos de 20 000 habitantes. A recomendação é que equipamentos de saúde de maior complexidade (como hospitais) tenham uma base populacional de 100 000 a 150 000 habitantes. Ou seja: são hospitais inviáveis e sem economia de escala.
- Os internamentos realizados nestes hospitais economicamente inviáveis, com abrangência populacional inadequada, são constituidos majoritáriamente por condições sensíveis a atenção ambulatorial (ICSAA). Coisas que poderiam ser resolvidas pela Atenção Básica.
- Em resumo: O número de leitos está sendo reduzido e ISTO É DESEJÁVEL. A redução é esperada e é fruto das modificações no perfil epidemiológico, demográfico, econômico, cultural etc etc etc...
- Por final: Se algum gênio descobrir como se faz para "reduzir essa descontrolada escalada de crescimento das enfermidades crônicas que estão inviabilizando economicamente os sistemas de saúde de todo o mundo", corra para patentear a solução... ISTO É INEXORÁVEL, NATURAL E ESPERADO. Com certeza a solução não passa pela manutenção de uma rede hospitalar ineficiente, inadequada e anacrônica.
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