Quando o diretor de Carros 2, que estreou neste fim de semana em circuito mundial, disse que a indústria do petróleo seria a vilã da continuação da aventura de Relâmpago McQueen, os setores mais reacionários dos EUA “comemoraram”: “Nós, conservadores e crentes no mercado livre, somos acusados de ser paranóicos quando dizemos que Hollywood está tentando doutrinar nossos filhos com propaganda de esquerda. Mas agora os diretores e produtores estão vindo a público e admitindo aquilo que estão fazendo”, escreveu o site O Conservador Solitário.
Assistir ao filme infantil, no entanto, leva a uma experiência oposta. Fica evidente que, se havia intenção esquerdista e ambientalista na produção e nos diretores, ela não passou da largada.
Carros 2 é um filme que mostra o quanto o discurso da busca por um combustível alternativo é esmagado pelo concorrente conservador – o que afirma que “não há alternativa”, o que exige dos contestadores uma solução definitiva para problemas que eles não criaram, o que fica feliz e comemora porque, a rigor, um outro mundo não é possível.
O filme começa numa plataforma de petróleo no Oceano Pacífico (China? Japão?), onde cenas dignas de 007 favorecem a leitura de que uma conspiração de grande escala está em andamento. Em seguida, somos apresentados à ideia de que um carro, ex-magnata do petróleo, converteu-se à pesquisa e desenvolvimento de combustíveis não poluentes.
O combustível alternativo tem o sugestivo nome de allinol – ou seja, é quase um etanol (brasileiro?). Mas ele tem um ponto fraco, que vai se revelando no decorrer da trama. Quando atingido por raios eletromagnéticos, faz explodir os motores dos carros. Não há como seguir argumentando sem contar o que ocorre perto do final da história – então, se você é sensível a spoilers, pare por aqui e aproveite para ler esta matéria sobre como pequenas usinas podem baixar o preço do etanol brasileiro.
O allinol, na verdade, não passa de uma gasolina adulterada, uma fraude criada pelo suposto benfeitor que buscava combustíveis limpos. Carros 2 acaba por sugerir a inviabilidade de se usar combustíveis alternativos em grande escala. Além disto, não se posiciona sobre a produção de veículos enormes, como as SUVs, que consomem muito mais petróleo que o razoável, nem sobre a valorização excessiva do transporte individual – as duas mais “eficientes” maneiras de transformar combustíveis fósseis em CO2 e outros poluentes.
Quer que seu filho ou filha se divirtam assistindo a Carros 2?
Tudo bem. Mas saiba que eles não vão receber uma mensagem ecologicamente correta. Infelizmente, precisamos continuar lendo os filmes da Disney (mesmo os feitos pela Pixar) com dois pés atrás.
Ariel Dorfman talvez não estivesse exagerando quando escreveu Para Ler o Pato Donald.
Ariel Dorfman talvez não estivesse exagerando quando escreveu Para Ler o Pato Donald.
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