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sábado, 6 de agosto de 2011

A saga dos remédios

Para que um medicamento chegue às mãos do consumidor, o processo leva pelo menos 18 anos, desde os primeiros estudos nos laboratórios até as fases de teste e aprovação. O custo pode chegar a quase US$ 300 milhões, dependendo da droga

 CAROLINA COTTA no Correio Braziliense


Boston - A julgar pela oferta nas farmácias, há medicamentos para quase tudo. Dos mais "inofensivos", vendidos sem receita, às pílulas de siglas quase impronunciáveis. O preço, via de regra, é diretamente proporcional à exclusividade da fórmula no mercado e, claro, ao tempo que levou para chegar a ser comercializada. Uma pode até ser mais rápida que a outra, mas geralmente o paciente pode sentar e esperar: o tempo médio para um medicamento chegar à sua mão é de pelo menos 18 anos para as drogas mais elaboradas e de seis se for um antiviral daqueles que um governo faria qualquer coisa para obter.

É a saga dos remédios: um longo e caro caminho que passa pela necessidade, pela descoberta, pelos testes e pela aprovação.

Dependendo da molécula que está sendo analisada, para se transformar numa potente droga capaz de curar uma trombose ou minimizar os efeitos do diabetes sobre o organismo, por exemplo, um laboratório pode chegar a investir algo em torno de US$ 300 milhões (cerca de R$ 460 milhões).

Sempre foi assim, mas terá que ser diferente no futuro. Kenneth Kaitin, diretor do Centro de Estudo e Desenvolvimento de Medicamentos da Tufts University, de Boston, nos Estados Unidos, alerta que o tempo é de desafios: nesse mercado extremamente competitivo, as patentes de alguns produtos de alta renda estão vencendo, o que tira do laboratório desenvolvedor a exclusividade de comercialização da fórmula. Só em 2011, a indústria farmacêutica americana está perdendo US$ 44 bilhões. Exemplo disso é o Lipitol, revolucionário medicamento do laboratório Pfizer para baixar o colesterol. Com o vencimento de sua patente, haverá uma perda representativa de US$ 12 bilhões. Isso tudo sem falar nos obstáculos para a regulamentação e no fato de somente três de cada 10 medicamentos cobrirem os custos de suas pesquisas.

Os prazos das patentes, claro, sempre venceram. A diferença, segundo Kaitin, é que agora as empresas não têm drogas tão fortes para substituir as que estão com a exclusividade acabando. E não é falta de investimento. "O problema é o número de aprovações, que hoje não é suficiente para gerar renda e sustentar o desenvolvimento de novas drogas", alega. As autorizações diminuíram consideravelmente no ano passado. As gigantes Merck, Pfizer e Lilly tiveram aprovação zero em 2010. "Os laboratórios culpam a agência reguladora americana, mas acho que a indústria não desenvolveu um processo eficientes para desenvolver novos medicamentos", opina o diretor da Tufts.

O grupo de Kaitin age para apresentar informações estratégicas tanto aos desenvolvedores quanto aos órgãos reguladores, como a norte-americana Food and Drug Administration (FDA), o que no Brasil corresponde à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A ideia é fomentar o ambiente de inovação terapêutica e, consequentemente, favorecer a pesquisa básica: a fonte das descobertas "É preciso aumentar a velocidade de desenvolvimento de novos medicamentos para diminuir custos e riscos", defende. Parceria é a palavra de ordem nesse cenário. Grandes laboratórios, como Pfizer, Novartis, Genzyme, Sanofi e Janssen, correm para reinventar e agilizar seus processos de pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos. A maioria passa por alianças com grandes universidades.

Na longa saga de um medicamento, ainda será preciso esperar muito para ver os resultados.

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