Médicos do hospital público mais movimentado de Brasília usavam o horário de trabalho para atender pacientes em consultórios particulares. A denúncia chegou ao secretário de Saúde que demitiu a chefe do setor, como mostra a reportagem de Júlio Mosquéra e Diego Moraes.
Tatiana Aparecida depende da consulta com um endocrinologista para fazer uma cirurgia, e não tem previsão de atendimento. Há dois meses, ela espera por uma vaga nos hospitais públicos da capital do país.
“Se eu quiser fazer a cirurgia no tempo previsto que eu devia estar fazendo, vou ter que procurar um particular. Na rede pública não tem”, ele conta.
Enquanto Tatiana espera na fila, endocrinologistas que deveriam atender no Hospital de Base, o maior hospital público de Brasília, dão expediente em consultórios particulares.
O produtor Diego Moraes flagrou, com uma câmera escondida, médicos que ganham até R$ 22 mil por mês e deveriam cumprir 40 horas semanais de trabalho. Entre eles, Mário Sérgio de Almeida, um dos mais antigos endocrinologistas do Hospital de Base.
“Estou lá há 28 anos, no Hospital de Base. Desde outubro de 1983. Atendo aqui e lá”, ele revela.
De acordo com a escala da secretaria de saúde, ele deveria trabalhar na rede pública de segunda a sexta-feira, de 8h às 12h e de 14h às 18h. Mas na maior parte da semana está no consultório particular, como informou a secretária dele.
A médica Adriana Carvalho Furtado também foi encontrada trabalhando em seu consultório particular, quando deveria estar no hospital público.
Até a chefe da endocrinologia do hospital, Cláudia Gurgel, deixa de cumprir as 40 horas na rede pública e divide o tempo com o consultório particular.
A direção do Hospital de Base admitiu que os médicos deveriam estar no hospital quando trabalhavam nos consultórios particulares. O secretário de Saúde Rafael Barbosa mandou abrir investigação para apurar as denúncias, mas já decidiu exonerar do cargo a chefe da endocrinologia.
O secretário de Saúde também vai reduzir pela metade a jornada de trabalho dos médicos denunciados e os salários vão cair 40%.
“A partir de segunda-feira, eles voltam a cumprir a jornada de 20 horas. Tinham 40, mas não cumpriam. Então, agora, efetivamente, vão poder se dedicar à rede privada e à rede pública”, afirma.
O promotor de saúde do Distrito Federal, Jairo Bisol, investiga denúncias semelhantes desde meados do ano passado. Ele critica o modelo de gestão pública que coloca em cargos de comando médicos donos de clínicas particulares.
“Esse é o câncer que assola a rede pública de saúde do Distrito Federal. É inadmissível, do ponto de vista do Ministério Público, que o gestor nomeie para funções de coordenação médicos que são empresários também”, avalia.
A médica Cláudia Gurgel, exonerada do cargo de chefe da endocrinologia, disse que estava de férias no dia do flagrante e que os fatos estão sendo apurados
Mário Sérgio de Almeida disse que só vai para seu consultório quando encerra as atividades no hospital publico. Ele declarou também que faz horas extras no hospital e que, em alguns meses, trabalha mais de 40 horas semanais.
A médica Adriana Furtado não retornou as ligações da nossa reportagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário