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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Desabafo do meu amigo Jorge sobre "Leitos hospitalares: Estadão pisou feio na bola"


Bom dia Lobato
Desde novembro inaugurei uma nova modalidade esportiva que talvez chegue a ser olímpica. Trata-se do triatlo médico que, dependendo do paciente-atleta pode chegar ao pentatlo ou decatlo. Iniciei na metade de novembro com um problema no pulso e mão direita, duas semanas depois me diverti com um cálculo renal e, finalmente (espero), uma infecção no olho direito.
Por conta dessas modalidades acabei frequentando algumas praças desportivas também conhecidas como hospitais. Na emergência do Santa Cruz, um profissional ortopedista, alternando bocejos e olhares ao infinito, falou comigo mas não me ouviu. Prescreveu uma medicação e ainda que várias vezes alertado para minha condição de hipertenso prescreveu medicação ou dose equivocada. Não fosse a presença de espírito da Adriana e a iniciativa de uma enfermeira e a situação poderia ter um desfecho bem complicado. Depois, assustado com o fato teve a cara de pau de dizer que o medicamento prescrito ainda não havia sido aplicado.
Tenho pesquisado, mas ainda não encontrei resposta: por que cargas d’água as complicações em saúde costumam ser mais frequentes na sexta feira logo após as 19 horas quando tudo fica mais complicado. Pois é.....foi numa sexta feira, por volta das 21 horas que meu cálculo renal de estimação decidiu que era hora de vir ao mundo.  Ainda com a má lembrança do atendimento no Santa Cruz optei pela emergência da Cruz Vermelha. Lá fui atendido por um profissional médico que despertou confiança. O problema é quando o médico se afasta você fica nas mãos da enfermagem. E aí foi um pequeno filme de terror. Tive que ir até ao banheiro para fazer uma coleta de urina e, quando abri a porta do WC, parecia que havia entrado numa fossa horizontal. Por muito menos a vigilância sanitária fecha bares e lanchonetes na cidade. Tive a sensação de que há muito tempo aquele espaço não conhece o pessoal da limpeza. E quando a atendente de enfermagem veio fazer uma expedição no meu braço em procura da veia perdida, tive o que me pareceu uma boa explicação: a impressão de que pessoal da limpeza fora promovido à enfermagem. No dia seguinte, em casa, percebi um ligeira irritação no olho. Em algumas horas a pálpebra inchou e a tal infecção amebiana se instalou ou vice versa. Vou poupá-lo dos detalhes.
Durante toda este triatlo eu só queria ter um bom atendimento médico. “Privilegiado”, pois tenho o plano de saúde da GEAP, descobri que não há mais nenhuma diferença em termos de qualidade entre público e planos de saúde. No público não se tem opção; nos planos de saúde as opções são falsas. Optei, então, pela busca de profissionais mais conhecidos e recomendados, todos fora dos planos, a custos elevados e, quando muito, aceitando os pagamentos pela tabela do SINAM. Isso, para mim, pequeno burguês, é algo possível num curto espaço de tempo. Ou seja: para a grande maioria da população o acesso a serviços e profissionais de qualidade começa a ficar cada vez mais distante.
Enfim: o que fica cada vez mais claro é que em se tratando de saúde não há como aceitar que não seja toda ela incorporada ao setor público. Penso que o SUS deve radicalizar. Esta história de “serviços complementares” ao setor público é balela. A única maneira de fortalecer o SUS é acabando de vez com a prática da medicina privada e com os planos de saúde. E mais: há necessidade de uma forte intervenção nos cursos formadores de profissionais de saúde e elevação do padrão de exigência na formação.   
Segunda feira, meu time na segunda divisão e tenho uma cirurgia (particular) na mão direita na próxima quarta feira com o Sobania. Então vai ver que eu esteja equivocado e minha conclusão seja fruto do meu mau humor matinal, o que é raro mas ninguém é de ferro. E, como dizia meu avô: “ isto não resolveria porque o ferro oxida!”
Abraço,

Jorge Luiz Bostelmann de Oliveira

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