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sábado, 11 de fevereiro de 2012

Guia ajuda médico a dar más notícias para familiares






CLARISSA THOMÉ / RIO - O Estado de S.Paulo



Na última década, o Brasil dobrou o número de transplantes - alcançou 23.397 cirurgias em 2011. A abordagem das famílias de possíveis doadores, porém, ainda é tabu para os médicos. Para facilitar essa tarefa, a psicóloga Kátia Magalhães, coordenadora familiar do Programa Estadual de Transplantes do Rio de Janeiro, criou uma espécie de guia das más notícias - 12 passos que o profissional deve seguir para se comunicar melhor com o paciente e os familiares.


A ideia do protocolo surgiu em 2011, depois que Kátia participou do curso Comunicação de Notícias Difíceis, oferecido a profissionais de saúde peloInstituto Nacional do Câncer (Inca) e Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.



Ali, ela tomou contato com o protocolo Spikes, método criado por médicos americanos, há dez anos, para nortear a comunicação de más notícias a pacientes com câncer.



Kátia, então, adaptou o guia americano de seis etapas para a realidade do transplante. E dobrou o número de "passos". "Muitos médicos se sentem incomodados em falar com os familiares de possíveis doadores. Eles entendem que já é um momento tão triste para a família que se sentem constrangidos de falar em doação. Mas as pesquisas depois do transplante revelam que para a família é como um conforto. Doar alivia o luto", afirma a psicóloga.



Cada família reage de uma forma diferente ao luto - algumas entram em um processo de negação, outras reagem violentamente; há ainda as que entram em apatia.



"Quanto mais capacitação tiver o profissional de saúde, mais ferramenta ele terá para lidar com o imponderável da situação. Não existe fórmula fechada para lidar com a comunicação da morte. A ideia dos 12 passos é ter um norte para seguir. Eles servirão de base para o profissional lidar com essa situação tão difícil."



As dicas parecem simples. Entre elas, usar linguajar acessível, evitar termos técnicos, certificar-se de que a família (ou o paciente) está entendendo o que ocorreu, observar as emoções da pessoa que está recebendo a notícia (mais informações nesta página). O trabalho foi apresentado no Congresso Brasileiro de Transplantes, em outubro, e no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), nesta semana.



Protocolo amplo. Para o chefe da Área de Desenvolvimento de Políticas de Humanização do Into, Sérgio Catão, o protocolo adaptado por Kátia não se aplica apenas à hora de abordar a família de um doador, mas em outros momentos difíceis.




"As más notícias são diversas, de acordo com a característica da unidade. Aqui no Into temos outras más notícias: a amputação, o tratamento que não deu certo, a infecção que prolonga a internação. A má notícia às vezes é mal veiculada, sobretudo pelo médico. Queremos encontrar um caminho para facilitar essa comunicação", afirmou.

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