Relatório das Nações Unidas traçou quadro mundial do problema; no Brasil, 9,2% dos bebês nascem antes do tempo
Taxa brasileira é intermediária mas é sinal de atenção, segundo um dos autores do levantamento
na FSP
As complicações decorrentes do parto prematuro são a segunda maior causa de morte entre crianças com menos de cinco anos no mundo, atrás só da pneumonia.
São 15 milhões de bebês nascidos com menos de 37 semanas de gestação no mundo a cada ano, dos quais 1 milhão morre.
Os dados são de um relatório divulgado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Lançado ontem em Nova York, o levantamento mobilizou mais de 40 agências da ONU, ONGs e governos.
O problema é mais grave em países pobres, especialmente da África ao sul do Saara e da Ásia. Nessas regiões, a taxa de prematuros passa de 12 a cada cem nascidos vivos. Nas nações desenvolvidas, 9% dos bebês nascem antes do período normal de gestação.
No Brasil, a taxa é de 9,2%, a mesma da Alemanha. No entanto, em números absolutos, o país foi o décimo com mais prematuros entre os 185 listados, com 279,3 mil nascimentos em 2010.
A líder, Índia, teve 3,519 milhões. A China, segunda colocada, teve quase 1,2 milhão.
"Em números relativos, o Brasil tem 9,2 prematuros para cada cem nascimentos. É uma taxa intermediária, mas é um sinal de atenção", disse à Folha José Belizan, cientista do Iecs (Instituto de Políticas de Saúde e Efetividade Clínica), da Argentina, que participou da publicação.
CAUSAS
Para o relatório, nos países mais pobres, os prematuros, em geral, nascem de grávidas com problemas de saúde como hipertensão, diabetes e HIV, além de fatores de risco, como tabagismo,alcoolismo e consumo de outras drogas.
Já nos países desenvolvidos, o problema parece tender mais para questões como a gravidez tardia e o maior acesos à fertilização in vitro, com sua probabilidade elevada de gestações múltiplas.
A quantidade de cesáreas realizadas antes do tempo, muitas vezes para "conveniência de médicos ou pais", também tem destaque. Um problema que, diz o relatório, cresce na América Latina.
Em 2011, pela primeira vez, o percentual de cesarianas superou o de partos normais no país, chegando a 52% do total. Para a OMS, o recomendado é cerca de 15%.
Na opinião de Dário Pasche, diretor do Departamento de Ações Pragmáticas Estratégicas do Ministério da Saúde, a alta quantidade de cesarianas marcadas com antecedência no Brasil é um fator que impulsiona a quantidade de prematuros.
"Nossos números são altos, mas nos dados do ministério não são tão grandes quanto os do levantamento."
A pasta informou que, segundo seus registros, o número de prematuros em 2010 foi 204,3 mil, o que representaria 7,1% dos nascidos vivos.
O estudo da OMS leva em conta diversas fontes e não apenas o governo.
DINHEIRO IMPORTA
Os bebês prematuros pobres são os que mais morrem.
"Em países pobres, mais de 90% dos prematuros extremos [menos de 28 semanas de gestação] morrem nos primeiros dias de vida, enquanto menos de 10% deles morrem nos países mais ricos", diz Christopher Howson, coeditor do relatório.
Parte dessas mortes poderia ser evitada com medidas baratas. "Três quartos dessas crianças sobreviveriam com ações simples e efetivas, como injeções de corticoides nas grávidas [para 'amadurecer' a capacidade pulmonar dos bebês]", disse Belizan.
Em regiões com carência de incubadoras e outros cuidados neonatais, o documento sugere o chamado "método canguru" -uma faixa que envolve o bebê e o liga à mãe, na altura do seio. Com ele, a criança fica aquecida pelo calor da mãe e ainda tem fácil acesso ao seio para mamar. O Brasil é um dos países que já adota esse sistema.
Do outro lado da lista, Belarus encabeça o time de países com menor percentual de prematuros, com 4,1%. O Equador vem depois, com 5,1%. Finlândia, Croácia, Japão e Suécia também estão entre os 11 melhores.
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