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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

#Coxinhadejaleco e seu "ativismo" peculiar: coloca a secretária p/ coletar assinaturas enquanto o chefe está ganhando dinheiro

Dr. Rosinha: Coação para assinar abaixo-assinado contra o Mais Médicos

por Dr. Rosinha, especial para o Viomundo

Uma conceituada cidadã curitibana, viúva de um médico, me telefonou na semana passada. No momento do telefonema estava indignada com o que acabara de acontecer com ela. Tinha acabado de sair de um consultório médico e, perplexa, me conta o ocorrido.

Relata que na sala de espera, antes de entrar para a consulta ortopédica, foi “convidada” a assinar um abaixo-assinado contra o Programa Mais Médicos, do Ministério da Saúde.

Coloco a palavra “convidada” entre aspas porque ela sentiu-se ameaçada pelo “convite”. Disse-me: “se assino, sou bem atendida. Se não assino, quem me garante que serei bem atendida, ou serei descriminada?”

Fez a opção de não assinar, até por que concorda com o programa do Ministério da Saúde. Mas, ao não assinar, surpreendeu a secretária, que disse: “mas todos que aqui vêm assinam. Já são quase mil pessoas que assinaram e a senhora é a única que se nega a fazer isso”.

Assim que acaba de relatar, me pergunto: será que os outros sabiam o que estavam assinando? Ou assinaram ignorando o significado? Ou assinaram por se sentirem coagidas?

Apesar de ela saber — pois por muitos anos viveu com um médico, que além de ser um profissional sério, honesto, ético e competente, sempre teve compromisso com a cidadania e na defesa da saúde pública —, procurei acalmá-la dizendo que, acima de tudo, o médico tem o compromisso com a ética, com a saúde e com a vida. Que jamais um bom e humano profissional, independente da área que atue, vai usar da profissão para fazer maldades. Que, no caso, o profissional jamais faria isso. Mas, sinceramente, “convidar” o paciente a assinar um texto que convém ao profissional e não ao povo, é motivo para sentir-se coagido.

Na mesma semana passada, 5 de agosto, me senti constrangido. Compareci, como todos os médicos deveriam comparecer, ao Conselho Regional de Medicina (CRM-PR) para votar. Havia eleições para a nova direção do CRM e concorriam duas chapas.

Escolher entre as duas chapas não ameaça ninguém. O que me deu constrangimento foi que, após depositar o voto na urna, sob o olhar de candidatos e fiscais de ambas as chapas, fui convidado a assinar o abaixo-assinado contra o Programa Mais Médicos. Se assino, estou de bem com a grande maioria dos médicos do Brasil, mas principalmente com aqueles que presenciaram o convite. Se não assino, como fiz, o que posso esperar?

Esta pergunta não é inocente, pois eu sei o nível (da agressividade) das mensagens que li e que recebi na internet. Uma delas, de um cidadão que se identifica como médico e professor da Universidade Federal do Paraná, me obrigou a denunciá-lo à Polícia Federal.

Como não gosto de votar sem conhecer o programa de trabalho dos candidatos e das chapas, fui lê-los e qual não foi a surpresa: nenhum deles tinha a proposta de defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) ou de qualquer outro sistema público de saúde que garanta ao cidadão o que está disposto na Constituição.

Ao observar a ausência de defesa do direito à saúde, é mais fácil compreender a posição da entidade de se colocar contra o Programa Mais Médicos. Mas, não custa fazer uma pergunta: quando os médicos farão manifestações de rua, passeatas e abaixo-assinados contra os planos de saúde que tanto os exploram?

Na semana que passou também ocorreu o Encontro Nacional de Entidades Médicas (ENEM). Tal Encontro divulgou uma nota que não difere da ladainha rezada desde o primeiro dia da divulgação do programa Mais Médicos. Na nota, entendo que demagogicamente, reafirmam a disposição em contribuir com a saúde pública sem “compactuar com propostas improvisadas e eleitoreiras”.

Chama de proposta eleitoreira oferecer o atendimento médico ao cidadão e a cidadã. Atendimento este feito por profissional médico brasileiro, e caso não haja número suficiente, aí sim a contratação de médico estrangeiro.

Mas o ENEM, não divulgou, e era a oportunidade, nenhuma nota contra os médicos em geral que burlam o ponto e não cumprem o horário de trabalho, bem como aqueles que prestam serviços ao SUS e cobram “por fora”.

*Dr. Rosinha, médico pediatra é deputado federal (PT-PR) e presidente da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados. No twitter: @DrRosinha

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