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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Resistência é constante ao redor do mundo, diz médico cubano na Venezuela

"A medicina no sistema capitalista é praticada com um fim de benefícios econômicos e não a serviço do povo", destacou

no Opera Mundi (dica do stockler @stockler_)

O doutor Evelio Pérez atua entre os médicos cubanos na Venezuela desde a criação do programa de saúde Missão Barrio Adentro, destinado à atenção médica em áreas pobres do país e criado pelo falecido presidente Hugo Chávez.
[Missões de médicos cubanos atuam em diversos países ao redor do mundo] 
Membro da direção da missão em Caracas, Pérez chegou ao país sul-americano após ter atuado durante 27 meses em Belize, após a passagem de um furacão. Durante o período no país, contou ter conhecido pacientes que nunca tinham visto um médico.


Em entrevista a Opera Mundi, feita durante o 7º Encontro Continental de Solidariedade com Cuba, realizado em Caracas na última semana, Pérez, que atua na capital venezuelana desde 2003, com a coordenação de assistência de saúde em 38 postos de saúde, conta que a resistência aos médicos cubanos, principalmente por parte de colégios médicos, é uma constante em diversos países. Segundo ele, no entanto, a receptividade aos profissionais desta nacionalidade “é fantástica”.



Opera Mundi: O vice-presidente venezuelano, Jorge Arreaza, afirmou em um discurso recente que houve resistência, principalmente por parte da oposição, à vinda dos médicos cubanos. Vocês ainda sentem essa resistência?
Evelio Pérez: Sempre vai haver resistência, e não somente na Venezuela. Em qualquer parte do mundo em que os médicos cubanos estivemos, sempre houve uma resistência da oposição, mas sobretudo dos colégios médicos capitalistas que se opõem aos médicos que querem oferecer atendimento gratuito, como estamos fazendo. Em 2003, viemos graças à vontade da população, que nos recebeu, nos apoiou em suas casas para que oferecêssemos esse serviço de saúde gratuita. A medicina no sistema capitalista é praticada com um fim de benefícios econômicos e não a serviço do povo. Acreditamos que esta é a razão principal da resistência. A forma de pensar é diferente, com a visão da medicina com um fim mercantilista, sempre vamos ter a resistência de médicos que acreditam que vamos tirar o trabalho deles. E não é assim, nosso trabalho é para as comunidades.



OM: Antes dos episódios de violência pós-eleitoral registrados em abril, houve mais registros de agressão a médicos cubanos aqui na Venezuela?
EP: Não, nesta campanha foi quando mais se recrudesceram os atos, as agressões físicas aos CDI (Centro de Diagnóstico Integral). Mas nós, cubanos, nos mantemos firmes, trabalhando para este povo. A receptividade nas comunidades é uma coisa impressionante. Começamos em 2003 com 50 médicos, e neste momento não podíamos medir que o povo nos receberia desta maneira com que nos recebeu. Temos a experiência de atendimento na África e da atuação em diversos países por muitos anos, mas não conhecíamos a realidade da Venezuela, e a receptividade do povo foi fantástica.



OM: Como é a adaptação de vocês para os tratamentos específicos de cada país, com as diferentes epidemiologias?
EP: A medicina é a mesma em qualquer lugar do mundo, e as doenças as mesmas. Em Cuba, temos um instituto de medicina tropical que nos permite estar preparados para ir a qualquer parte do mundo e tratar as doenças tropicais que em Cuba erradicamos há muitos anos, mas que em qualquer parte do mundo as enfrentamos sem nenhum tipo de problemas.

OM: Um dos argumentos contra a ida de médicos cubanos ao Brasil é que não existe falta de médicos, mas sim de infraestrutura e que o gasto do governo com a contratação de médicos estrangeiros poderia ser investido em áreas deficientes. Como avalia esta posição?
EP: Isso também é algo que se vê em todos os países. Sempre dizem que eles dispõem dos médicos para suprir a necessidade da população. Mas a realidade é outra. Porque na maioria dos países que recebeu a missão médica cubana, a população das comunidades via um médico pela primeira vez. O serviço de saúde nunca tinha sido acessível para este grupo da população. Vivemos isso aqui em Caracas, e em Belize, na América Central, onde os médicos cubanos foram os primeiros médicos a chegar nestes lugares onde vivia gente mais necessitada, mais pobre. E isso é o que se vivia, as pessoas não sabiam o que era um médico na comunidade. Hoje isso continua sendo um dos elementos mais importantes sobre o qual temos que trabalhar, que em todas as comunidades as pessoas saibam quais são os serviços de saúde que oferecemos.


OM: Em Cuba, os médicos estão entre os profissionais mais valorizados. O senhor acredita que em outros lugares do mundo falta essa formação orientada ao atendimento em comunidades onde muitas vezes os profissionais não querem atuar?
EP: Um dos nossos trabalhos aqui é entrar nas comunidades. Na Venezuela, nós sempre dizemos que viemos para três coisas. Uma delas é a da formação dos recursos humanos em matéria de saúde para que estes médicos possam um dia assumir o atendimento nas comunidades. A experiência obtida com a Escola Latino-americana de Medicina em Cuba permitiu que muitos fossem se integrando às comunidades. A quantidade de médicos venezuelanos que vão se inserindo nas comunidades é cada ano superior. Acho que essa é uma das tarefas que nós temos, não só na Venezuela, mas em qualquer parte do mundo: formar médicos para que se integrem às comunidades, para que todos possam ter acesso à saúde. 

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