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sábado, 31 de maio de 2014

[Tabagismo]: Uma doença pediátrica

no Correio Braziliense


Após um ação judicial em 1998, 6 milhões de documentos sigilosos de sete empresas que vendiam cigarro nos EUA foram a público. Os papéis revelaram partes das movimentações financeiras colossais e a informação de que crianças e jovens eram "reservas de reabastecimento" do setor, entre outros dados. Em 1987, um executivo da Philip Morris escreveu, em um memorando, que o aumento no valor dos maços em 1982 e 1983 fez com que 2 milhões de adultos parassem de fumar e impediu que 600 mil adolescentes começassem em todo o país.

Segundo os cálculos do empresário, a fatia que correspondia à empresa em que ele trabalhava -- 700 mil adultos que abandonaram o cigarro e 420 jovens que nunca fumaram -- gerou incontáveis prejuízos financeiros. A partir de então, as estratégias de publicidade das empresas têm mirado em públicos específicos, como adolescentes, mulheres e homossexuais, que compram a ideia de que o consumo do cigarro light é menos prejudicial à saúde. Pior do que isso: emagrece.

No Brasil, levantamentos do Ministério da Saúde demonstram que 75% dos fumantes têm o primeiro contato com o cigarro até os 18 anos e 67% começam a fumar regularmente a partir dessa idade ou menos. De uma forma geral, nos países emergentes, a iniciação ao fumo se dá por volta dos 12 anos, o que faz com que o tabagismo seja considerado uma doença pediátrica.

E a ligação com o cigarro começa bem antes. Ao investigar 2.423 crianças com 5 e 6 anos no Brasil, na China, na Índia, na Nigéria, no Paquistão e na Rússia, pesquisadores da Escola de Medicina Johns Hopkins Bloomberg (EUA) descobriram que elas sabiam associar as logomarcas ao produtos. As pesquisadoras Dina Borzekowski e Joanna Cohen notaram que 68% dos pequenos identificaram pelo menos uma das oito marcas usadas no estudo. As menores taxas de associação da logo ao maço foram verificadas na Rússia (50%) e as maiores na China (86%). Cerca de 60% das crianças brasileiras sabiam determinar os logotipos, especialmente as que viviam em áreas urbanas.

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