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domingo, 6 de julho de 2014

Vergonha! 7,5 milhões não sabem ler e escrever ... (na Alemanha)

Alemanha enfrenta a praga invisível do analfabetismo

Cerca de 7,5 milhões de adultos não sabem ler e escrever no país

no Globo

BERLIM - A Alemanha é o país dos grandes filósofos, escritores e... analfabetos. Uma pesquisa divulgada na semana passada revela que 7,5 milhões de alemães não sabem ler e escrever. Segundo Urda Thiessen, professora de alfabetização para adultos entre 18 e 64 anos de idade, o sistema alemão favorece os melhores e oferece poucas chances aos mais fracos. Quem termina o primeiro ano escolar sem saber ler ou escrever corre o risco de ficar analfabeto para sempre.

— No sistema de educação regular, não há nenhuma chance de recuperação desse déficit no início do período escolar, provocado muitas vezes por doenças ou crises familiares, como a separação dos pais — diz Thiessen.

Problema passa despercebido


Frequentemente, os analfabetos têm um QI normal ou até mais alto do que a média da população. Quer dizer, eles não deixaram de aprender a ler por falta de inteligência, mas sim por problemas que não foram observados pelo professor.

— Na Alemanha, há escola gratuita para todos, mas os professores da escola primária, em classes com 30 ou mais alunos, não têm tempo para se ocupar com alunos problemáticos — explica.

São casos como o de Thomas S., de 21 anos. No primeiro ano escolar, ele faltou muito à escola por motivo de doença. Como os pais não tinham dinheiro para pagar aula particular de apoio, Thomas terminou analfabeto.

— A vida é um estresse constante de fazer de conta que se sabe ler — confessa Thomas.

Depois de completar 20 anos, ele resolveu contornar seu problema. Matriculou-se em um curso de alfabetização para adultos em NeuKölln, no Sul de Berlim, e com o método especial, que consiste em ensinar os alunos a ler e a escrever com base na vida cotidiana, aprendeu rapidamente o que não tinha conseguido nos quatro anos de escola primária.

Thomas acha tão divertida a sensação de superar uma dificuldade que dedica seu tempo livre a projetos da associação, como a “oficina escrever”, que tem um jornal escrito por ex-analfabetos.

— Os analfabetos são muitas vezes altamente criativos — registra Urda, confirmando a teoria de que problemas escolares não estão relacionados ao grau de inteligência.

Segundo Tim Thilo Fellner, ex-analfabeto e hoje escritor de livros infantis, o problema surge em algum momento do período inicial escolar e fica cada vez “mais crônico” com a completa perda da autoconfiança. Quando ele tinha 29 anos, tentava ganhar a vida como motorista, mas tinha problema até para ler os nomes das ruas. Aos 30, matriculou-se num curso de alfabetização, e o resultado foi uma revolução individual. Para ele, o problema do analfabetismo é ainda mais grave do que os dados apontados no último estudo, feito por associações dedicadas à alfabetização para adultos e pela Universidade de Hamburgo.

— Na verdade, uma em cada sete crianças deixa a escola sem aprender a ler e escrever — registra.

Os analfabetos deixam a escola sem conclusão e começam a trabalhar numa profissão em que sua deficiência é pouco notada, como ajudante de cozinha ou na construção civil.

— É uma tortura viver como analfabeto na Alemanha. Precisamos de muito esforço para ocultar o problema e não sermos alvo de discriminação — revela Peggy Gaedecke, outra ex-aluna de Urda Thiessen.

Peggy começou a vida profissional trabalhando em restaurantes. Ficava exausta com o esforço para que ninguém percebesse seu problema: ela decorava o cardápio, mas acabava entrando em apuros quando havia mudanças.

— O analfabeto vive de mentiras — conta ela.

Segundo o estudo da Universidade de Hamburgo, apenas 50% dos analfabetos vivem no desemprego. Como a demanda por mão de obra de baixa qualificação é grande na Alemanha, eles não têm grandes dificuldades em conseguir um emprego, ao contrário de acadêmicos que se formam em disciplinas de pouco uso prático, como Filosofia, Latim ou Grego antigo, cursos oferecidos em quase todas as universidades alemãs.

Já o Instituto do Trabalho e Qualificação revelou que, na disputa por emprego, 8,6% das pessoas com título acadêmico — muitos até com doutorado — terminam aceitando ofertas que exigem baixo nível de educação formal, competindo com os analfabetos.

Até o próximo ano, todos os estados alemães promovem uma estratégia nacional para erradicar o analfabetismo. Mas Urda Thiessen não acredita que o tempo previsto pelo programa seja suficiente.

— Apenas começamos a atacar o problema de frente — diz, embora a associação onde trabalha exista há mais de 20 anos.

O estudo da Universidade de Hamburgo revela, ainda, que muitas pessoas hoje analfabetas um dia chegaram a aprender a ler e a escrever na escola. A falta de leitura seria a causa de elas terem voltado ao analfabetismo.

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