Para os especialistas, a marcha à ré nos indicadores da primeira infância são reflexo de prioridades equivocadas do governo, que encolheu os gastos sociais em anos de recessão, mas continuou financiando dívidas tributárias,
do Outra Saúde, via email
Dados do Ministério da Saúde consolidados pelo Observatório da Criança e do Adolescente, da Fundação Abrinq, apontam uma piora dos mais importantes indicadores ligados à infância no Brasil. O levantamento mereceu a manchetedo Valor ontem: “Crise interrompe queda da mortalidade infantil”.
Após 13 anos em trajetória descendente, as mortes evitáveis entre um mês e quatro anos aumentaram 11% em 2016. A piora afetou todos os estados, com exceção de Rio Grande do Sul, Sergipe, Paraíba e Distrito Federal. A mortalidade na faixa que vai do primeiro mês de vida a um ano também aumentou 2%. Segundo o Observatório, a taxa global de mortalidade infantil em 2016 ficou em 12,7 – número que, em 2015, foi de 12,4.
A desnutrição aumentou em crianças menores de cinco anos: passou de 12,6%, em 2016, para 13,1% em 2017, de acordo com dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional reunidos pelo Observatório.
Embora os dados de mortalidade infantil não sejam oficiais (o Ministério divulga apenas os números relacionados a 2015), Fatima Marinho, diretora do departamento que consolida os dados ligado à Secretaria de Vigilância da pasta conversou com o Valor e admitiu a piora:
"A mortalidade pós-neonatal [após 28 dias de vida], que é a mais sensível ao desenvolvimento social, está tendo um repique. Algumas dessas causas de morte mostram aumento em 2016 e projeta aumento para anos seguintes também. Algumas são muito associadas à pobreza, por exemplo, as gastrointestinais, que vinham reduzindo fortemente, mas tem repique em 2016. Já vínhamos observando e assinalando esses problemas, então vamos ver em 2017 se isso se mantém ou conseguimos reverter".
Para os especialistas ouvidos pelo jornal, a marcha à ré nos indicadores da primeira infância são reflexo de prioridades equivocadas do governo, que encolheu os gastos sociais em anos de recessão, mas continuou financiando dívidas tributárias, Refis, dívidas rurais... Na saúde, a redução do Mais Médicos pode ser um dos fatores que expliquem os novos (velhos) números, na visão do próprio Ministério:
"Onde houve aumento de morte por diarreia? Geralmente na população muito pobre. Não se morre mais por isso, mas houve um repique. Vemos lugares nos municípios do semiárido, por exemplo, que eram mais atendidos pelo programa Mais Médicos, que tinham reduzido bastante essas mortes, e agora isso volta a crescer porque o programa encolheu também", diz Fatima Marinho.
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