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quinta-feira, 14 de março de 2019

Democracia faz bem à saúde, aponta estudo

Dados de 170 países mostram que transição para regimes democráticos teve maior influência no aumento na expectativa de vida e na queda das mortes por diversas doenças que o crescimento econômico



Viver em uma democracia é melhor para a saúde, aponta estudo publicado nesta quarta-feira no prestigiado periódico médico-científico “The Lancet”. O levantamento, que analisou dados de 170 países, verificou que os que fizeram a transição para regimes com eleições regulares livres e justas entre 1970 e 2015 experimentaram um maior aumento na expectativa de vida do que as nações que permaneceram em regimes ditatoriais ou autocráticos, além de uma queda mais acentuada nas mortes por diversas doenças e causas que seria esperada apenas pelo crescimento econômico no período.

Segundo os pesquisadores, as causas de morte que parecem ser mais reduzidas pela democracia são doenças do coração, tuberculose, acidentes de trânsito e outras chamadas doenças não comunicáveis, que incluem males crônicos como diabetes, problemas respiratórios e cânceres, responsáveis por mais de um quarto de todas as mortes ou incapacitação de pessoas com menos de 70 anos em países de média e baixa rendas.

Pelos cálculos dos cientistas, a transição para a democracia respondeu por 22% da redução na mortalidade por doenças cardiovasculares nestes países, contra 12% creditados ao crescimento de seu Produto Interno Bruto (PIB). Já no caso de acidentes de trânsito, a relação é de 18% contra 7%, enquanto no de cânceres fica em 10% a 6%, em 6% contra 2% no de cirrose e 13% a 9% no de doenças não comunicáveis em geral.

Em uma amostra da influência da democracia nesse fenômeno, os pesquisadores destacam que o mesmo não é observado em algumas das principais causas de morte por motivos comunicáveis no planeta e alvos de ajuda e programas internacionais, como HIV/Aids e malária. Outro sinal disso, apontam, são as estatísticas de expectativa de vida, com os países que fizeram uma transição democrática experimentando aumento 3% maior nela após dez anos do que os que permaneceram com seus regimes autocráticos ou ditadoriais.

— Os resultados deste estudo sugerem que eleições e a saúde do povo estão cada vez mais inseparáveis — comenta Thomas Bollyky, do Conselho sobre Relações Internacionais dos EUA e líder da pesquisa. — Sem a pressão ou validação pelos eleitores ou agências internacionais de ajuda, os líderes autocráticos têm menos incentivo que seus contrapartes democráticos para financiar as mais caras prevenção e tratamento de doenças do coração, cânceres e outros males crônicos, que apesar de serem responsáveis por estimados 58% das mortes ou incapacitações nos países de baixa e média rendas são alvos de apenas 2% da ajuda internacional na área de saúde.

Para avaliar o quanto a democracia influencia a saúde da população de um país, os cientistas cruzaram dados da série de estudos Fardo Global das Doenças (GBD, na sigla em inglês) — que usa uma inovadora metodologia desenvolvida no Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME) da Universidade de Washington, EUA, para calcular a incidência e impactos de centenas de doenças, suas sequelas e fatores de risco nas populações de 188 países desde 1990 — com os índices para cada um do projeto Variedades da Democracia, da Universidade de Gotemburgo, Suécia, e da base de dados Financiando a Saúde Global, também do IHME, modelando estatisticamente as informações para eliminar ou minimizar fatores de confusão.

Diante disso, o estudo não pôde encontrar relações estatisticamente significativas da influência da democracia na incidência, incapacitação ou mortes por doenças ou fatores de menor prevalência, como problemas mentais ou musculoesqueléticos, entre outros. Ainda assim, os pesquisadores consideram os achados relativos a males mais prevalentes um bom indicador da importância de passar a incluir o paio e fortalecimento das instituições democráticas nos programas de ajuda internacional na área de saúde.

— Nossas estimativas representam uma potencial e grande mudança na maneira como enfrentamos os desafios globais na saúde — diz Joseph Dieleman, do IHME e um dos coautores do estudo. — Em tempos de orçamentos de ajuda estagnados e com o fardo das doenças rapidamente mudando (das infecciosas) para as não comunicáveis, as agências internacionais de saúde e doadores devem cada vez mais levar em consideração as implicações do tipo de regime para maximizar os ganhos na saúde.

Dieleman afirma que "os esforços para melhorar a saúde dos adultos podem se beneficiar de programas que ajudem os países a fortalecer seus processos democráticos e construírem instituições responsáveis".

— Da mesma forma, devemos direcionar mais a escassa ajuda para desenvolvimento na área de saúde às causas de morte em que a democracia tem maior impacto, como as doenças cardiovasculares — acrescentou.

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