Matutando criticamente sobre o marianismo do mês de maio
por Fátima Oliveira, no Jornal OTEMPO (reproduzido do Vi o Mundo)
Médica -fatimaoliveira@ig.com.br
Em 2006, escrevi dois artigos, que revisito hoje e que relembram que em maio há várias datas que ressaltam o papel da mulher como procriadora, segundo a visão de mulher do catolicismo (“Maio e as mulheres” e “28 de maio: viva a mãe viva!”, O TEMPO, 8 e 29.5.2006).
Maio é o mês de Maria, mãe de Jesus, pois em maio ocorreu a sua consagração. Dia 13 de maio é de Nossa Senhora de Fátima e dia 31 é da Visitação de Nossa Senhora. Na Europa, há a tradição de oferendas florais na primavera e de celebrar a consagração de Maria, costume popular incluído por Paulo VI na encíclica “Mês de Maio”, consagrada a Maria, enfatizando que rezar o santo rosário era “uma oração agradável à Virgem Maria”.
Maio é o mês das noivas desde a oficialização do marianismo (1965), que foi adensada pela Constituição Dogmática “Lumen Gentium”, que deu a Maria o título de “Mãe de Deus e Mãe dos Homens”, e pela Exortação Apostólica “Marialis Cultus” – para a reta compreensão e desenvolvimento verdadeiro do culto à Virgem Maria.
O segundo domingo de maio é Dia das Mães, oficializado em 1914 pelo presidente dos Estados Unidos Woodrow Wilson, mas idealizado pela professora norte-americana Anna M. Jarvis (1864-1948), que criou um símbolo: o cravo – o vermelho para a mãe viva e o branco para a morta. No Brasil, desde 1918, era comemorado pela Associação Cristã de Moços (ACM); Getúlio Vargas o tornou oficial em 1932.
Celebrar as mães é tradição antiga: a festa de Réia, mãe dos deuses (Grécia); a Matronália (Roma); e o Mothering Day, que data da Idade Média, na Inglaterra.
A relevância de maio para a reprodução humana, na visão da Santa Sé e do Vaticano, motivou o Tribunal Internacional de Denúncia e Violação dos Direitos Reprodutivos à definição do 28 de maio como Dia Internacional de Ação pela Saúde da Mulher para denunciar o descaso governamental para com a saúde feminina no período reprodutivo e sua decorrência mais cruel: a morte materna (4º Encontro Internacional Mulher e Saúde, Amsterdan, Holanda, 1984).
No 5º Encontro Internacional Mulher e Saúde (São José da Costa Rica, 1987), foi instituída a Campanha Mundial pela Saúde da Mulher e de Combate à Morbimortalidade Materna, iniciada em 1988, tendo como meta a instalação de comitês de prevenção da mortalidade materna na estrutura dos governos, que ainda são a estratégia de maior impacto, no mundo, contra a morte materna, pois, onde funciona um comitê, a morte materna cai de modo acentuado e como que por encanto!
A preocupação do Movimento Internacional Mulher e Saúde, que realiza os encontros internacionais Mulher e Saúde, com a morte materna, foi endossada pela OMS, que promoveu o tema “Maternidade sem riscos”, na conferência “Iniciativa à Maternidade Segura” (Quênia, 1987), e assumiu visibilizar as mortes maternas e reduzi-las em 50% até o ano 2000. Propósito não cumprido até hoje!
A campanha mundial obrigou/sensibilizou governos pelo mundo afora a apoiá-la. Em 1994, o Ministério da Saúde definiu o 28 de maio como Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna (Portaria nº 663, de 22.3.1994), ocasião para avaliar ações governamentais na área.
E foi num 28 de maio que o governo Lula lançou o Pacto Nacional pela Redução da Morte Materna e Neonatal (2005), reconhecendo que havia um fosso profundo entre o que a lei consagrava como direitos e o cotidiano da maioria das brasileiras.
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