Projeto que será votado hoje tira R$ 7 bilhões anuais da saúde
A pedido de governadores, texto da regulamentação da Emenda 29 retira dinheiro do setor. Planalto diz que há acordo para mudar isso no Senado. Mas PMDB nega acerto
Do jeito que está, a lei tem um dispositivo, no parágrafo 2.º do artigo 6.º, que retira as verbas do Fundo de Valorização dos Profissionais de Educação (Fundeb) da base do cálculo do porcentual de recursos a serem aplicados obrigatoriamente pelos 26 estados e o Distrito Federal. Ao tirar os R$ 58 bilhões do Fundeb da base de cálculo, a perda estimada pelos consultores técnicos da Câmara é que o Sistema Único de Saúde (SUS) terá menos R$ 7 bilhões anuais.
Audiência pública
Padilha, durante audiência pública na Câmara, garantiu que o texto será corrigido no Senado. Entretanto, o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, não tem tanta certeza. “Os senadores também são pressionados pelos governos. Mas a discussão lá será outra história. O importante agora é votar”, afirmou.
Para o presidente da CNM, a mudança no texto da Câmara atendeu a um pedido dos governadores, que não teriam interesse em ampliar os investimentos na saúde – os estados, de acordo com a Emenda 29, têm de aplicar 12% de suas receitas correntes líquidas na área, mas costumam “maquiar” as contas ao incluir outros gastos para atingir o porcentual mínimo. “Não acredito que tenha sido um erro [a retirada do Fundeb da base de cálculo]. Acho que foi proposital, um pedido de ex-governadores e governadores que não cumprem com a emenda”, afirmou Ziulkoski.
Compromisso
O líder do PT no Senado e ex-ministro da Saúde do governo Lula, Humberto Costa (PT-PE), disse que “já foi firmado um compromisso com a Câmara e com governo para corrigir o artigo” e garantir investimento extra de R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões dos estados.
O problema é que o presidente nacional do PMDB e senador Valdir Raupp (RO) diz que seu partido não fez acordo algum. “O PMDB ainda vai discutir o assunto, mas os estados não podem pagar sozinhos esta conta. A União vai ter que se comprometer com algo a mais”, disse Raupp. Ele sugere que o governo federal comece a pensar em taxar bebidas e cigarros que, segundo seus cálculos, renderia cerca de R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões anuais para a saúde.
“É um absurdo o que vamos fazer. Estamos vendendo a ilusão de que a emenda resolverá tudo, mas não tem dinheiro público novo para a saúde”, diz o presidente do PSDB mineiro, deputado Marcus Pestana, preocupado com o desconhecimento dos prefeitos sobre o teor da proposta.
O ministro Alexandre Padilha também disse que o texto não é ideal, mas pediu a aprovação da regulamentação. “É um passo importante que está sendo dado: termos uma regra clara sobre o que é investimento em saúde. Mas a caminhada ainda vai ser longa para reorganizar o SUS e dar conta das necessidades do povo brasileiro”, declarou.
Estados “maquiam” dados para descumprir norma
Os governos estaduais são obrigados a aplicar 12% da arrecadação, mas muitas vezes fazem uma “maquiagem” dos dados, computando despesas com saneamento e nutrição.
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