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quinta-feira, 18 de março de 2021

Bolsonaro e Napoleão têm uma coisa em comum

Bonaparte visitando as vítimas da peste de Jafa (1799) é o título da obra de Antoine-Jean Gros, datada de 1804, e encomendada por Napoleão Bonaparte para representar um episódio da campanha do Egito. O quadro representa Napoleão durante uma cena tocante que ocorreu em Jafa, em 1799, durante a qual o general tentou elevar o moral de suas tropas, aproximando-se e tocando a ferida de um soldado.


Rogério Galindo - no Singular 18 (por e-mail)

Existe uma imagem famosa de Napoleão (aquele) tocando nas pústulas de gente com peste. Foi numa campanha pelo Oriente Médio: os soldados franceses estavam sendo assolados pela doença e o imperador apareceu numa mesquita, onde havia um hospital improvisado. Tocou nos doentes e encorajou seus homens a prosseguirem - a doença, parecia ser o recado, não era páreo para a máquina de guerra da França.

A tela sobre o tema faz parte da tentativa de tornar Napoleão um semideus. Mas por trás de todo tirano existe um lado B, como sabe quem lê um pouco de história. E Napoleão não foge à regra: na verdade, o imperador queria elevar o moral da tropa não só a golpes de coragem pessoal. Ele forçou a barra para que a ciência se dobrasse diante de suas necessidades políticas, e quis que os estudiosos mentissem na cara dura, para afirmar que a peste não era contagiosa.

A nova biografia de Napoleão, escrita por Adam Zamoyski, publicado no Brasil pela Planeta (tradução minha e da Rosiane), conta a história em detalhes. Segue um trecho:

"Ele (Bonaparte) também frequentava as reuniões do Instituto, que vinha mantendo seu trabalho durante todo esse tempo, mas em uma sessão de 4 de julho ele teve problemas quando colocou a culpa do fracasso na Síria na peste e na incapacidade dos médicos de encontrar uma cura. Ele afirmou que ao tratar a peste como uma doença contagiosa, eles haviam prejudicado o moral da tropa, e que em nome do bem geral seria melhor declará-la como não-contagiosa. Desgenettes insistiu que a integridade científica exigia que a verdade fosse dita. Bonaparte denunciou o médico e os que pensavam como ele como um grupo de teóricos enfadonhos, e Desgenettes respondeu acusando-o de ser um líder despótico a quem faltava visão, e pondo nele toda a culpa pela carnificina e pela morte durante a campanha síria."

Descrença na ciência, egoísmo, exposição dos cidadãos a vírus mortais. Todo tirano tem um lado genocida.

Quem quiser saber mais sobre o livro clica aqui.

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