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segunda-feira, 30 de maio de 2022

As graves consequências do desmonte da Saúde da Família

Sob o governo Temer, novas regras fragilizaram a estratégia do SUS que leva equipes com médicos, enfermeiros e agentes comunitários para atender a população. Estudo no Rio de Janeiro aponta como o corte orçamentário fez cair bruscamente a assistência, nos últimos três anos

do Outra Saúde (por e-mail) 


Apesar de o SUS nunca ter recebido financiamento público à maneira como foi idealizado, decisões e políticas mais recentes estão tratando de reduzir ainda mais alguns de seus elementos mais importantes. Foi o que aconteceu ao serem aprovadas novas diretrizes para a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) em 2017, sob o governo de Michel Temer e a gestão de Ricardo Barros como ministro da Saúde. Essas mudanças foram objeto de pesquisa publicada na edição de maio dos Cadernos de Saúde Pública, da Fiocruz. Fabricio Loureiro Garcia e Marlana Socal analisaram dados da cidade do Rio de Janeiro de 2017 e 2020, recolhidos pelo DataSUS, e notaram uma forte deterioração da Estratégia de Saúde da Família (ESF).

O momento era de crise econômica no Brasil, mas também de adoção de políticas de “austeridade” orçamentária pelo governo – foi a mesma época da aprovação do teto de gastos, que congelou gastos sociais por 20 anos, e da contrarreforma trabalhista. Essas novas diretrizes criaram uma ruptura ao fragilizar notoriamente a Saúde da Família, e reforçando uma política mais tradicional de atenção básica, comprovadamente menos eficaz. A ESF exige que as equipes sejam compostas por um médico de atenção primária, um profissional de enfermagem e um assistente, além de um número de Agentes Comunitários de Saúde que dê conta do contingente de pacientes atendidos – sendo no máximo um agente para cada 750 pessoas. Cada equipe é responsável por 3,5 mil a 4,5 mil brasileiros.

Com as mudanças na PNAB, as regras afrouxaram, e o ministério passou a aceitar equipes de atenção básica com cargas horárias e número de profissionais menos fixos. Também não se exige que haja agentes comunitários – essenciais para a criação de vínculo das comunidades com o sistema de saúde. Os dados trazidos pela pesquisa mostram de maneira inequívoca como as mudanças afastaram a atenção básica da população carioca. A cobertura da cidade pela ESF, que vinha crescendo com notabilidade de 2010 a 2017, despencou ano a ano até 2020. Como mostra o gráfico abaixo, era de 62,6% em 2017 e caiu para 40,5%, três anos depois.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Na venda da Amil, os horrores da privatização da Saúde

Por Gabriela Leite, no Outra Saúde (via e-mail)

Usuários relatam dificuldades em utilizar os serviços do convênio de saúde, desde que a operadora vendeu 337 mil de seus planos individuais a outras empresas. Enquanto isso, Congresso discute a desregulamentação do setor…


Já era de se esperar, mas vieram rápido demais as reclamações de usuários da Amil sobre a degradação acelerada dos serviços. Eles relatam dificuldades em agendar exames, descredenciamento de hospitais sem aviso prévio e falta de orientação da empresa. As reclamações à ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) multiplicam-se. Tudo começou em dezembro do ano passado, quando a Amil simplesmente “vendeu” 337 mil clientes de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná às empresas APS (Assistência Personalizada à Saúde) e Fiord Capital, em dezembro de 2021.

A operação é curiosa. A gigante norte-americana do ramo da Saúde UnitedHealth, dona da Amil, repassou às minúsculas APS e Fiord Capital, por R$ 3 bilhões, os planos de saúde dos usuários que supostamente geravam prejuízo à empresa. A estranheza amplia-se à medida em que se conhecem os detalhes. A Fiord Capital foi aberta um mês antes da operação, é especializada em “reestruturação financeira” e funciona em uma casa modesta num bairro da zona leste de São Paulo. A APS, diferente da Fiord, é da área da Saúde e também pertence à UnitedHealth. Até receber os usuários da Amil, tinha apenas pouco mais de 11 mil contas. Ao fazer a transação – que ainda precisa ser autorizada pela agência reguladora –, a Amil não poderia, segundo as normas, fazer alteração na rede credenciada nem mudar os valores dos planos. Não é o que vem acontecendo…

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Nova lei dos planos de saúde: sonho empresarial, pesadelo para o país

Do Outra saúde (por e-mail)


Análise de centros de estudos da USP e UFRJ aponta: revisão da lei atual reduz coberturas, exclui pobres e idosos de direitos básicos e revela método legislativo opaco. É preciso arquivá-lo já


Mesmo no universo lunático da atual política brasileira causou espanto, no último dia 3/12, o aparecimento da primeira versão do projeto de revisão da lei 9.656/98, que alicerça o funcionamento dos planos de saúde no Brasil. O parecer do relator, deputado Hiran Gonçalves (PP-RR), se for levado a sério, abolirá tudo o que se conseguiu de progresso, em termos de Saúde, nos últimos trinta anos. Entidades como Abrasco, Cebes e Idec estão perplexas e indignadas.

O texto atropela, por exemplo, a Classificação Internacional de Doenças da OMS (Organização Mundial de Saúde), convertida em simples “referência”. Pela lei de 1998, todas as doenças dessa lista devem ser obrigatoriamente cobertas. Também se ignora o Estatuto do Idoso, pelo qual não se poderia aumento o preço dos planos desta população. Mas pela revisão proposta, ela acabaria “expulsa” dos planos de saúde, por impossibilidade de pagamento.

domingo, 12 de setembro de 2021

Mostre para aquele seu conhecido que é (foi?) Bolsominion e que está sentindo uns apertos no peito e dores na consciência (será?).

 

Bolsonaro late e os generais fazem negócios

O Partido Militar se articula para ficar no poder.

por Rafael Moro Martins no The Intercept Brasil (via e-mail)


A caravana passou, com os cães latindo ao volante de caminhões, caminhonetes e (muitos) carros caros e (alguns) nem tanto, além de incontáveis motociclistas – tipos mal-encarados ao estilo Selvagens de Alphaville ou Demônios do Condomínio de Luxo – e muita gente a pé e em ônibus. Foi grande, não vou mentir: assisti da calçada, em Brasília, a um desfile que parecia interminável de gente disposta a derrubar a democracia em nome de um governo genocida e corrupto.

Mas, para imaginar o que virá a seguir, convém deixar a parada de bolsonaristas e as missivas de lado e olhar para as figuras que levaram Bolsonaro ao Planalto, e que vêm chamando muito menos atenção do que deveriam: o tal do Partido Militar. Os generais da reserva que escoltaram o indisciplinado ex-capitão à Presidência e que se movimentam para se manterem no poder – e com poder – enquanto Bolsonaro se dedica a aterrorizar o país com a ameaça de um autogolpe.

O que vai a seguir são informações recolhidas pelo boletim mensal com foco nas Forças Armadas brasileiras do Instituto Tricontinental que monitora a participação militar na política. O levantamento parte de informações públicas e é coordenado pela cientista social Ana Penido, também pesquisadora do Grupo de Estudos em Defesa e Segurança Internacional da Universidade Estadual Paulista, a Unesp.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

A mediocridade endêmica no desgoverno Bolsonaro fornece munição para a CPI

Cena 1:

Alguns meses atrás, meu filho e eu assistindo TV e aparece uma coletiva do Elcio Franco, o milico que então ocupava o cargo de secretário executivo do Ministério da Saúde. 

Falei com meu filho: "Tira o som e olha a postura corporal do cara sem escutar o lero-lero que ele está falando". 

Dito e feito. Ficava claro que o sujeito (que era o número dois do ridículo Pazuello) não tinha idéia sobre o que estava falando. Não olhava para as câmeras, a postura era de um cara acuado que estava ali participando de uma encenação burlesca, tentando justificar o injustificável. 

Patético. 

Cena 2:

O governo monta uma força-tarefa tentando se preparar para enfrentar a CPI da Pandemia. 

Os "jênios" da equipe governamental montam uma planilha de Excel listando todos os pecados que o desgoverno Bolsonaro cometeu no enfrentamento da pandemia. Inacreditavelmente são listados 23 itens, desde o genocídio dos povos indígenas até a "militarização" do ministério da saúde. Chegam a envolver na meleca o ministro Paulo Guedes, que até então estava sendo blindado. 

Sim! É isso mesmo! O próprio desgoverno lista a militarização do ministério da saúde (Elcio Franco e Pazuello incluídos) como sendo um PECADO.

Acontece que na lista elaborada pela equipe de "jênios" constam mais irregularidades do que as elencadas pela própria CPI.

A CPI havia listado apenas 18 "pecados"... 

Mas não acaba aqui a trapalhada. A tal da lista que, imagina-se, deveria ser um documento reservado, foi encaminhada aos ministérios responsáveis por apresentar explicações/defesas por e-mail. Isso mesmo: Documento reservado encaminhado POR E-MAIL!

Resultado previsível até pela minha bisavó Dona Loloca: A lista vazou.

Randolfe Rodrigues, o vice-presidente da CPI adorou a história e já incorporou a lista vitaminada aos documentos da Comissão.

Daí vocês me perguntam: O que é que a Cena 1 tem a ver com a Cena 2?

Respondo:

O coordenador da força-tarefa, o "jênio" responsável pela lista que está servindo como munição para a oposição, o cara que deu o tiro no pé do próprio desgoverno atende pelo nome de... Elcio Franco.

A mediocridade é endêmica no desgoverno Bolsonaro.


segunda-feira, 19 de abril de 2021

Médicos que defendem o mentiroso tratamento precoce têm obtido ganhos financeiros e políticos

no Outra Saúde (por e-mail)


GANHOS MUITO CONCRETOS

Os médicos que defendem o mentiroso tratamento precoce têm obtido ganhos financeiros e políticos. O Estadão mostra que ao menos quatro profissionais usaram a fama que essa defesa lhes garantiu nas redes sociais para tentar a sorte nas últimas eleições – e um conseguiu. Pedro Melo (PSL) foi eleito vereador da cidade de Porto Ferreira, no interior de São Paulo. Em uma live transmitida em março no canal da Associação Médicos pela Vida, criada para defender a cloroquina, ele admitiu que suas contas criadas nas redes sociais para “orientar a população sobre o tratamento precoce” o ajudaram a se eleger.

Outro exemplo de vantagem é dado pela médica Raíssa Soares, que foi convidada por Jair Bolsonaro para discursar sobre o tratamento precoce em um evento no Palácio do Planalto em agosto passado. Ela usou sua fama para fazer campanha para o candidato Jânio Natal (PL), que concorria à prefeitura de Porto Seguro. O político foi eleito e a nomeou secretária da Saúde. Agora, ela planeja disputar o governo da Bahia em 2022 – “se tiver o apoio do presidente Jair Bolsonaro”.

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Os "experimentos mengelianos" dos médicos brasileiros e o respaldo do CFM

Josef Mengele, oficial da SS, conhecido como "O Anjo da Morte de Auschwitz"


do Outra Saúde (via e-mail)


TÉCNICA EXPERIMENTAL?

O médico alemão Josef Mengele, oficial da SS, usou prisioneiros de Auschwitz para conduzir experimentos humanos muitas vezes letais. É dele que o infectologista Francisco Ivanildo de Oliveira, gerente médico do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo, se lembra ao comentar a nebulização com hidroxicloroquina que provocou mais uma morte em Manaus. "Nunca vi isso. Não sabemos quantos pacientes foram utilizados, não há termo de consentimento nem comitê ético. É até mau gosto chamar de estudo. Trata-se de um experimento mengeliano", diz ele, à Folha.

A reportagem esmiúça o caso de Jucicleia de Sousa Lira, de 33 anos,  que estava com covid-19 e tinha acabado de ter um bebê em um parto de emergência. A ginecologista e obstetra paulista Michelle Chechter conseguiu da paciente uma autorização para usar  "a técnica experimental nebuhcq líquido, desenvolvida pelo dr. Zelenko de Nova York", que consiste em nebulizar hidroxicloroquina macerada. Só que não é assim que se aplica um tratamento experimental, como ressalta Oliveira. Além de o 'estudo' não ter aprovação de comitê de ética, o papel assinado por Jucicleia não a informava sobre os riscos ela que corria.

sábado, 10 de abril de 2021

Diagnosticando o “médico bolsonarista”

A medicina vem depois disso, para ser usada como argumento de autoridade e facilitar a inoculação desta subespécie de bolsonarismo que surgiu na pandemia, o bolsonarismo clínico. 


por Wilson Gomes na Revista Cult

Dos tipos políticos mais extravagantes encontrados no fundo desse abismo em que nos encontramos, o “médico bolsonarista” é um dos mais intrigantes. O enigma começa com as duas palavras que o designam: ele é médico por substantivo, quer dizer que exerce um ofício considerado nobre em qualquer sociedade, que consiste em curar e salvar vidas; mas é também bolsonarista, por adjetivo, portanto filiado a uma atitude política que, como sobejamente demonstrado a este ponto da nossa odisseia pandêmica, coloca a identidade tribal e o fanatismo em um lugar infinitamente superior ao apreço por vidas humanas e à missão de cuidar e curar. A tensão entre o substantivo e o adjetivo parece indicar um paradoxo. Na verdade, trata-se de um oximoro, como em “claro enigma”, “som do silêncio” ou “instante eterno”. Também neste caso, o adjetivo devora, anula ou contradiz o substantivo. O “médico bolsonarista” é, portanto, uma contradição ambulante, que só a singularidade da fauna dos abismos poderia comportar.

Não se enganem supondo a superioridade do substantivo sobre o adjetivo. O “médico bolsonarista” não é um médico que também é bolsonarista, mas um bolsonarista que ganha a vida exercendo a medicina. O bolsonarismo é que o define, posto que a ele se subordina tudo o mais o que a pessoa é, como pai, amigo, vizinho e, naturalmente, profissional da área de saúde. Não terá escrúpulos de usar, por exemplo, o prestígio, a distinção e a autoridade que a sociedade lhe concede por ser médico para fazer propaganda para a sua facção política mesmo em matérias e posições que violem francamente o seu juramento e ponham em risco a saúde dos seus pacientes, pois ele é primeiro um missionário de uma crença e o soldado de uma causa. A medicina vem depois disso, para ser usada como argumento de autoridade e facilitar a inoculação desta subespécie de bolsonarismo que surgiu na pandemia, o bolsonarismo clínico. 

sexta-feira, 26 de março de 2021

Necropolítica: No auge da pandemia orçamento prioriza aviões de combate e submarinos enquanto retira bilhões da saúde

Os fardados serão os únicos servidores que terão reajuste salarial, com impacto de R$ 7,1 bi no orçamento.

do Outra Saúde (por e-mail)

ORÇAMENTO DA SAÚDE

Com três meses de atraso, ontem finalmente o Congresso aprovou o orçamento de 2021. No total, ações e serviços públicos de saúde terão um orçamento de R$ 125 bilhões, pouco acima do piso constitucional (R$ 123,8 bilhões) – e muito abaixo dos R$ 161 bilhões aplicados no SUS no ano passado, considerando os créditos extraordinários destinados ao Ministério da Saúde por conta da pandemia – que, agora, chegou ao pior momento, como sabemos.

Os militares consorciados com o bolsonarismo, ao contrário, garantiram recursos para no meio da crise sanitária compra de aeronaves de caça (R$ 1,6 bilhão) e até construção de submarinos (R$ 1,3 bilhão). Na rubrica de investimentos, os gastos militares representam nada menos do que 22% do total do governo federal, comando R$ 8 bi. Os fardados serão os únicos servidores que terão reajuste salarial, com impacto de R$ 7,1 bi no orçamento.

"Minha gente, nós estamos guerreando contra quem? Eu pergunto a vocês: submarino e aviões de caça vão combater o coronavírus? Então, não dá para entender que prioridades são essas. Como aumentamos o orçamento da defesa e diminuímos o orçamento da educação e diminuímos também o orçamento da saúde, que é vital para todos nós?" resumiu o deputado Bira do Pindaré (PSB-MA).

quinta-feira, 18 de março de 2021

Bolsonaro e Napoleão têm uma coisa em comum

Bonaparte visitando as vítimas da peste de Jafa (1799) é o título da obra de Antoine-Jean Gros, datada de 1804, e encomendada por Napoleão Bonaparte para representar um episódio da campanha do Egito. O quadro representa Napoleão durante uma cena tocante que ocorreu em Jafa, em 1799, durante a qual o general tentou elevar o moral de suas tropas, aproximando-se e tocando a ferida de um soldado.


Rogério Galindo - no Singular 18 (por e-mail)

Existe uma imagem famosa de Napoleão (aquele) tocando nas pústulas de gente com peste. Foi numa campanha pelo Oriente Médio: os soldados franceses estavam sendo assolados pela doença e o imperador apareceu numa mesquita, onde havia um hospital improvisado. Tocou nos doentes e encorajou seus homens a prosseguirem - a doença, parecia ser o recado, não era páreo para a máquina de guerra da França.

A tela sobre o tema faz parte da tentativa de tornar Napoleão um semideus. Mas por trás de todo tirano existe um lado B, como sabe quem lê um pouco de história. E Napoleão não foge à regra: na verdade, o imperador queria elevar o moral da tropa não só a golpes de coragem pessoal. Ele forçou a barra para que a ciência se dobrasse diante de suas necessidades políticas, e quis que os estudiosos mentissem na cara dura, para afirmar que a peste não era contagiosa.

A nova biografia de Napoleão, escrita por Adam Zamoyski, publicado no Brasil pela Planeta (tradução minha e da Rosiane), conta a história em detalhes. Segue um trecho:

"Ele (Bonaparte) também frequentava as reuniões do Instituto, que vinha mantendo seu trabalho durante todo esse tempo, mas em uma sessão de 4 de julho ele teve problemas quando colocou a culpa do fracasso na Síria na peste e na incapacidade dos médicos de encontrar uma cura. Ele afirmou que ao tratar a peste como uma doença contagiosa, eles haviam prejudicado o moral da tropa, e que em nome do bem geral seria melhor declará-la como não-contagiosa. Desgenettes insistiu que a integridade científica exigia que a verdade fosse dita. Bonaparte denunciou o médico e os que pensavam como ele como um grupo de teóricos enfadonhos, e Desgenettes respondeu acusando-o de ser um líder despótico a quem faltava visão, e pondo nele toda a culpa pela carnificina e pela morte durante a campanha síria."

Descrença na ciência, egoísmo, exposição dos cidadãos a vírus mortais. Todo tirano tem um lado genocida.

Quem quiser saber mais sobre o livro clica aqui.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

SUS em risco: A armadilha embutida na volta do auxílio emergencial

"A volta do auxílio será compensada com as “fartas economias que o governo fará no médio e longo prazo a partir da desvinculação das despesas obrigatórias” 
GUEDES,Paulo.


do Outra Saúde (via e-mail)


RISCO HISTÓRICO

A primeira parte da conta da vitória de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Arthur Lira (PP-AL) às presidências do Senado e da Câmara não demorou a chegar – e, ao contrário do que se pensava, pode ser cobrada não de Bolsonaro, mas do SUS. Ontem pela manhã, Pacheco confirmou que colocará em votação na quinta-feira a PEC Emergencial. Logo depois, a Folha publicou a primeira reportagem explorando o conteúdo do relatório do senador Márcio Bittar para a proposta, enviado a lideranças partidárias na noite de domingo para uma rodada avaliação antes de ser protocolado. E lá está uma ideia que vem circulando há tempos e havia sido defendida na véspera por Lira em entrevista ao Globo: a desvinculação do orçamento, com extinção dos pisos para saúde e educação.

A cereja do bolo? A garantia de financiamento mínimo para as áreas sociais – que no caso da educação só deixou de existir em períodos autoritários, como lembra o Estadão, e no caso da saúde foi conquistada em 2000 e regulamentada a duras penas em 2012 – aparece como escambo para a reedição de algumas parcelas do auxílio emergencial.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

A mentira tem pernas curtas: Cloroquina, FIOCRUZ, Ministério

Via newsletter do Outra Saúde

CLOROQUINA, FIOCRUZ, MINISTÉRIO

Uma reportagem da Folha sobre a fabricação de hidroxicloroquina na Fiocruz gerou várias críticas e uma nota de esclarecimento por parte da instituição. O jornal afirmou ter obtido documentos mostrando que o Ministério da Saúde usou a Fiocruz para produzir quatro milhões de comprimidos dessa droga, além de Tamiflu, para pacientes com covid-19. Para completar, isso teria sido feito com recursos públicos emergenciais voltados a ações contra a doença: um dos papéis, de junho, informa textualmente que o crédito extraordinário liberado pela MP nº 940 fora usado para esse fim.

A Fundação diz que produziu hidroxicloroquina como faz há duas décadas, a partir de solicitações do Ministério para o Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária; as últimas remessas à pasta foram feitas em março de 2020 e janeiro de 2021, ambas para atendimento ao programa. Segundo a nota, os recursos emergenciais não foram usados nisso, mas sim para financiar ações como ampliação da capacidade de testagem, ensaios clínicos de novas drogas e a construção de um centro hospitalar voltado para covid-19. Parte da verba foi usada para a produção do Tamifu, mas visando ao tratamento da influenza.

O Ministério também publicou nota dizendo que não usou os recursos emergenciais alocados à Fiocruz para comprar cloroquina, e que a aquisição realizada em 2020 tinha sido programada ainda em 2019, portanto antes da pandemia.

Só que outra matéria, também na Folha, mostra um ofício da pasta justificando, no dia 4 de fevereiro, uma mudança de rumo em relação às drogas que seriam usadas contra a malária. "A aquisição desse medicamento foi planejada e instruída para atendimento ao programa de malária. Entretanto, com o advento da pandemia pelo novo coronavírus e dadas as orientações de uso pelo Ministério da Saúde, este medicamento passou a ser disponibilizado no SUS, em 27/03/2020, também para uso no contexto Covid-19", diz a pasta, respondendo a questionamentos da Procuradoria do Distrito Federal, que investiga improbidade administrativa por parte do general Eduardo Pazuello. O documento detalha: "As distribuições foram realizadas aos estados, Distrito Federal e municípios conforme o número de casos de Covid-19 registrados no boletim do Ministério da Saúde e também com base nas solicitações enviadas pelas secretarias estaduais e municipais de Saúde".

Ou seja: os ofícios do Ministério se contradizem. Ao que parece, a pasta pode não ter usado verbas da pandemia para pedir à Fiocruz que produzisse cloroquina contra covid-19 – talvez tenha 'apenas' desviado esses remédios que são eficazes contra a malária, precisavam ser usados por pacientes com tal doença e foram fabricados com essa finalidade.

Deputados do PT, PSB e PSOL protocolaram ontem uma representação na PGR para que o caso seja investigado.

Um desastre chamado Pazuello e o vexame (previsível) na audiência no Senado

Enrolação de Pazuello no Senado aumenta pressão por CPI


via newsletter do Outra Saúde


SÓ ENROLAÇÃO

Comentamos na última edição que os senadores iam decidir, a partir de uma audiência com o ministro da Saúde Eduardo Pazuello, se abrem ou não uma CPI para investigar a atuação do governo federal durante a pandemia. A reunião aconteceu ontem, estendendo-se por cinco horas. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse depois que ia conversar com os líderes da Casa para avaliar se as respostas foram "suficientes". Segundo a Coluna do Estadão, até governistas ficaram supresos (negativamente) com a performance do ministro. A oposição já tem assinaturas suficientes para o início da comissão parlamentar, e cabe a Pacheco dar o sinal verde. Sabe-se lá o que vai ser decidido, mas definitivamente não dá para dizer que a audiência tenha sido muito informativa.

Sob pressão, o general disparou informações que simplesmente não têm lastro no mundo real. Disse, por exemplo, que toda a população brasileira "vacinável" (isto é, maior de 18 anos) vai ser imunizada ainda este ano, e metade desse total até junho. Pode ser que milagres aconteçam, mas o próprio o Plano Nacional de Imunização estima, sem mencionar datas específicas, que isso só vá acontecer até 12 meses depois que os grupos prioritários estiverem cobertos. E, para o primeiro trimestre, o Brasil só conta com doses suficientes para vacinar 25% desses grupos... Até agora, as vacinas chegaram a 2,7% da população adulta. E só a primeira dose. Com estoques no fim, pelo menos sete capitais devem interromper as campanhas ou limitar ainda mais o público-alvo na próxima semana.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Ministério da Saúde pode ter se posicionado contra lockdown no Amazonas

MEIO TERMO AO INVÉS DE LOCKDOWN

Do Outra Saúde (via e-mail)

O Ministério da Saúde atuou pela flexibilização das medidas de isolamento social no Amazonas quatro dias antes do colapso do sistema de saúde do estado. A informação é do jornal O Globo, e se refere a um debate que aconteceu em uma reunião entre autoridades estaduais e membros da equipe de Eduardo Pazuello no dia 10 de janeiro. Duas pessoas presentes no encontro relatam que o governo federal pediu a adoção de um “meio-termo” ao lockdown, medida defendida por especialistas há tempos. Coincidência ou não, no dia 14 de janeiro o governador Wilson Lima (PSC) assinou um decreto mantendo atividades não essenciais e circulação nas ruas, tendo como restrição mais severa um “toque de recolher”. Naquele momento, a crise da falta de oxigênio e vagas nos hospitais já estava explícita.